‘O Festival do Amor’ – Woody Allen por Woody Allen

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‘O Festival do Amor’ – Woody Allen por Woody Allen

Por | 2021-12-29T16:36:20-03:00 29 de dezembro de 2021|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

O Festival do Amor (Rifkin’s Festival) (Comédia/Romance); Elenco: Wallace Shawn, Gina Gershon, Lios Garrel, Elena Anaya; Direção: Woody Allen: Espanha/EUA/Itália, 2021. 88 Min.

Dizem que quem viu um filme de Woody Allen viu todos. Talvez por conta de suas abordagens existencialistas, talvez pelos recortes intimistas ou pelos usos que o cineasta faz das artes: música, literatura, cinema e afins…. A diferença está na forma diversa com a qual Woody Allen consegue fazer o mesmo filme pela quinquagésima vez sem deixar de ser atrativo, interessante, artisticamente. e diverso filosoficamente.

“O Festival do Amor” (versão brasileira do título) se resume em woody falando da velhice, dos relacionamentos, dos sonhos, criticando os filmes consumistas e com excesso de frivolidades, com menos jazz do que em “O Homem Irracional” (2015), com menos cores do que em “Café Society” (2016) e com o mesmo senso de homenagem que “Meia-Noite em Paris” (2011). Se nesta, o cineasta homenageou Paris e os escritores americanos, aqui, ele homenageia a cidade espanhola de San Sebastián, e os grandes cineastas europeus, como: Jean-Luc Godard (“Acossado”); Ingmar Bergman (“Persona” e “Sétimo Selo”); Luchino Visconti (“Morte em Veneza”); Luis Buñuel (“O Anjo Exterminador”); Vittorio De Sica (“Ladrões de Bicicleta”) com reconstituições de trechos de seus filmes, ou remetências a eles. Todos, grandes filmes da História do cinema que fizeram parte de sua formação como cineasta.

Mort Rifkin (Wallace Shawn) é o personagem principal. Um respeitado cineasta que enfrenta problemas em seu relacionamento, que tem criticismo saindo pelas narinas, não suporta superficialidades e comercialidades excessivas, que faz um intervalo na escrita de seu livro para acompanhar a mulher, Sue (Gina Gershon) a trabalho, no festival de cinema de San Sebastián. Um artista que está no limbo de sua atividade, que não está filmando, mas escrevendo um livro. Nada que não tivesse sido trazido à baila em algum filme de Woody. A diferença está na expressão destas questões serem realizadas através das cenas mais ontológicas de filmes clássicos da Hist´ória do cinema. Uma homenagem de mesma monta feita à literatura através das reconstituições fictícias de Ernest Hemingway, Francis Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Luis Buñuel, Salvador Dalí e compania, em “Meia noite em Paris”.

Passear pela intelectualidade de Woody Allen, pelos seus gostos, por suas preferências artísticas e seus referenciais de formação é o que seus filmes promovem ao público, se forem vistos no conjunto de sua obra de vida. De Freud “Tudo o que você queria saber sobre sexo e tinha vergonha de perguntar” (1972) a León Tólstoi “A última Noite de Bóris Gruschencko” (1975); de teorias filosóficas e políticas passando por alfinetadas na cultura judaica (a qual pertence). Mesmo que seus argumentos em seus arcabouços se repitam têm sempre um ‘q’ de especial. Woody Allen, por ter se constituído um ícone do existencialismo no cinema, a despeito de todos os revezes, é currículo para todo ator que se pretenda completo. Afinal, na obra do cineasta é o diálogo, o tom, o olhar, a linguagem corporal que sustenta toda a história em todas as histórias.

“Festival do Rifkin” (original em tradução livre) é a perspectiva de um festival de cinema a partir do que Mort Rifkin viveu sob as lentes de Mr. Allen. Para quem curte as obras dele é uma boa oportunidade para reparar no que foi melhorado ao longo de toda a sua cinematografia e para os que não conhecem é uma boa oportunidade de entrar em contato com um elemento de uma obra que é fiel à sua digital de alma há mais de meio século.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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