O Formidável

O Formidável

Por | 2017-11-08T16:21:17-03:00 8 de novembro de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

O Formidável (Redoutable) (Biografia/Comédia/Drama); Elenco: Louis Garrel, Stacy Martin, Bérénice Bejo; Diretor: Michael Hazanavicius; Itália/França/Myanmar, 2017. 107 Min.

Um filme não é interpretação e direção, é também, e muito principalmente,  a direção de arte que nos transporta para uma época e o contexto de uma história, além da abordagem, é claro. E nesses quesitos Michael Hazanavicius se superou em falar de ninguém  menos que Jean-Luc Godard, o ícone da Nouvelle Vague e considerado um dos maiores cineastas  politizados e politizadores do século XX.

A comédia, sim, é uma comédia foi baseada no livro autobiográfico de Anne Wiazemsky (1947-2017), que fora casada com Godard de 1967 a 1979. A questão principal é como contar uma história de vida pessoal de alguém que tem a relevância de Godard e que  ainda está viva. Para Hazanavicius, parece ter sido simples, focando na importância dessa pessoa para seu tempo e transformando o arcabouço dessa história em uma comédia. Michael Hazanavicius, oscarizado por “O Artista” (2011), além de dirigir também fez o roteiro/adaptação do livro para a telona. Mesmo correndo o risco de parecer  pegar carona na fama e importância de Godard, fez uma homenagem e tanto ao cineasta franco-suíço com seu recorte de tempo (1967/1968), do lançamento de “A Chinesa” (1967) até os movimentos de protesto pelas ruas de Paris em 1968 com a criação do grupo de cinema Dziga Vertov.

A História faz uma radiografia da personalidade e dos caminhos de raciocínio de Jean-Luc Godard mostrando sua participação em reuniões na Sorbonne Université – que ainda não havia sido fragmentada – suas entrevistas pelo lançamento de “La Chinoise” e tantos protestos pelas ruas de Paris. Lembrando que nessa altura Godard já havia realizado os filmes “Viver a Vida”(1962) em que defende políticas públicas para o exercício da prostituição e a trata como uma profissão comum como qualquer outra; “Tempo de Guerra” (1963) em que conta a história de uns soldados arbitrários que recrutam uns fazendeiros para a guerra, sendo tão hipócritas e cruéis como o macrosistema o é, só que numa escala mais pessoal; ainda, “Alphaville” (1965) e “Demônio das Onze Horas” (1965) onde ambos mostra sociedades e seus esgotamentos. Logo, é fácil perceber o quanto Michael Hazanavicius usa da própria linguagem do Godard e de referências nesses filmes para falar de Godard. O destaque vai para cena do uso de livros, cujos títulos servem de argumentos dentro do contexto da história como Godard o faz em “Uma mulher é uma mulher” (1961) num cena cômica sensacional de briga de casal. A pegada de Hazanavicius e seu uso no filme é simplesmente genial e uma reverência ao mestre.

Em relação às tecnicalidades, Louis Garrel de “Amantes Constantes” (2005) está irreconhecível como Jean-Luc e Stacy Martin de “Ninfomaníaca” (2013) é o estereótipo do tipo de mulher que Godard apreciava/aprecia e está divina. O filme foi um dos indicados à Palma de Ouro desse ano no Festival de Cannes e, também, a melhor filme estrangeiro no Munich Film Festival. Para fechar, o que completa a obra é a direção de arte dos designer de produção Christian Marti de “Beijei Uma Garota” (2015) e “O Gebo e A Sombra” (2012) que enche a Champs-Élysées com figurantes caracterizados com o figurino da época, com takes de protestos muito bem dirigidos por Hazanavicius. A isso se junta também a fotografia de Guilhaume Schiffman de “Ela Vai”. “O Formidável” seleciona público, não é para quaisquer olhos, não só pelo seu assunto – a personalidade de Godard – como por sua abordagem – política – mas, dá uma aliviada se inserindo no gênero comédia. Para quem curte os assuntos é um deleite imperdível.

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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