O ídolo

Por | 2018-06-17T00:45:05-03:00 25 de janeiro de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

O Ídolo (Ya Tayr el Tayer/ The Idol) (Biografia/Comédia/Drama); Elenco: Tawfeek Barhom, Kais Attalah, Dima Awaedeh, Amer Hlehel, Eyad Hourani; Diretor: Hany Abu-Assad; Egito/Palestina/Emirados Árabes Unidos, 2015. 100 Min.

A Palestina é um estado formado recentemente, ainda debaixo de muitos conflitos territoriais, e lá o cinema tem muito pouca produção. Até 2014 sua produção anual era de três filmes, aproximadamente. O custo, as questões políticas e de conflitos regionais entre outros fatores se apresentam como as causas desses números. Mas quando conseguem se manifestar colocando um filme em circulação, apresentando-os em festivais e levando suas ideias ao mundo é algo que merece ser visto. Foi assim com “Olhos de Ladrão” (2014)  de Najwa Najjar, é assim, também, com “O Ídolo” de Hany Abu-Assad.

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O longa metragem conta a história de um grupo de crianças que gostava de cantar e de fazer estrepolias pelas ruas de Gaza. Quando um deles: Mohammed Assaf (Kais Attalah/ Tawfeek Barhom) tem a oportunidade de participar da franquia “Ídol” (versão árabe). E foi a franquia que faz concursos para descoberta de novos talentos mundo afora o portal para trazer essa história a público. A abordagem do roteirista Sameh Zoabi de “Telephone Árabe” (2010) é pueril e política ao mesmo tempo. Corroborada com a câmera de Ehab Assal e a direção de Hany Abu-Assad. As tomadas de um território destruído, de uma geografia inóspita em um clima árido com o canto de crianças, na voz de Mohammed Assaf é espetacular.  O longa aproveita a oportunidade e mostra do que somos capazes de fazer uns aos outros. Sem tomar partido algum de disputa alguma mostra a realidade de pessoas que sonham. E essa é a maior mensagem do filme: Contra todos os prognósticos, Sonhe! Já que, possivelmente, seja dessa substância de que somos feitos como dizia Shakespeare.

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Filmado em Jenin, na Palestina (representando Gaza) e falado em árabe e espanhol “O ìdolo” traz composições de Hani Asfori assinando a trilha e são, tipicamente, árabes. Dirigido pelo israelense Hany Abu – Assad  de “Omar” (2013) e “Paradise Now” (2005) e produzido por Egito, Palestina e Emirados Árabes o longa-metragem ganhou o UNESCO Award no Asia Pacific Screen Awards (2015) e teve outras quatro indicações em festivais mundo afora. O destaque vai para as interpretações de Kais Attalah e Tawfeek Barhom no papel de Mohamed criança e jovem, respectivamente. E para a aparição do verdadeiro Mohamed Assaf no final, que hoje é embaixador na ONU para a causa dos refugiados.

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“O Ídolo” é desses registros que os conta como o homem comum dribla normas e regras instituídas – arbitrárias ou não – usa suas táticas e, através delas, cria oportunidades. O filme nos mostra do que é capaz o sonho e a luta (lembrando que é uma história real) e nos faz lembrar de Jafar Panahi (cineasta iraniano) e sua táticas para tornar seus filmes conhecidos e vistos pelo mundo inteiro. O filme de Hany Abu-Assad merece ser visto pelo olhar da arte e da política. O longa é uma mensagem de esperança. E essa é a melhor parte, saber de ante-mão que tudo deu certo, e que só estaremos assistindo ‘como’ isso aconteceu. “O Ídolo” dá conta desse recado e, ainda, sublinha o que significou para o povo de Gaza a vitória do menino cantor num concurso mundial representando sua terra com seu melhor, e para tal o filme conta com imagens de arquivo.  Num momento em que o mundo e seus avanços sociais e políticos parecem ruir, esse filme é uma boa mensagem de esperança. vale o ingresso e toda reflexão que virá através dele. Boa pedida!

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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