O Nascimento de Uma Nação

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O Nascimento de Uma Nação

Por | 2018-06-17T00:37:20-03:00 14 de novembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

O Nascimento de Uma Nação (The Birth of a Nation) (Biografia/Drama/História); Elenco: Nate Parker, Armie Hammer, Penelope Ann Miller; Direção: Nate Parker; USA, 2016. 120 Min.

As estreias dessa semana são um desfile de filmes homônimos, depois de “Invasão de Privacidade” chegou a Hora de “O Nascimento de Uma Nação”. Só que dessa vez a analogia dá panos para a manga, como diz o ditado popular. Se em “Invasão de Privacidade” a força motriz pode ter sido a falta de criatividade ou a intenção de ir na aba do filmes de 1993, com “O Nascimento de Uma Nação” foi com propósito num antagonismo desaforado um século depois do original de D. W. Griffith.  Quase uma resposta se não for um convite à revolução.

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A versão de 1915, dirigida por Griffith é uma adaptação do livro The Clansman de Thomas Nixon e de “A História do Povo Americano” de Woodrow Wilson. Racista e embrião da organização Klux Klux Klan aborda o ponto de vista da elite branca norte-americana tendo como contexto a Guerra de Secessão (1861-1865). A versão de 2016 é dirigida, escrita, roteirizada, produzida e estrelada por um afroamericano natural da Virgínia que decidiu contar um episódio histórico de sua terra natal acontecido na primeira metade do século XIX, mais precisamente em 1831. É a história da insurreição de escravos e ex-escravos ocorrida entre 21-23 de Agosto daquele ano.  Para tanto, Nate Parker começa com a infância do líder da rebelião, Nathaniel Turner, interpretado por ele. Sua alfabetização voltada para as escrituras sagradas, sua juventude e ficciona a vida familiar de Nat Turner, já que o mesmo nunca se casou. O filme viaja pelo cotidiano de um escravo que fora criado com seu senhor de mesma idade, como amigos de infância, e que torna-se pregador, usando as escrituras sagradas como bálsamo para seu sofrimento e dos demais. E mais adiante sendo usado como instrumento para apaziguar escravos revoltosos em fazendas vizinhas e com isso sendo fonte de renda para seu senhor. É nesta seara e na das metáforas imagéticas que a versão de 2016 é feliz. Pois a guerra de retóricas entre os dois lados  usando o mesmo livro – a bíblia – como fundamento para seus desígnios é magistral; e as metáforas são muito bem contextualizadas – a vela, a espiga de milho, o machado e a bíblia no filme; e na divulgação, os cartazes – um verdadeiro show de bola que diz tudo sem precisar fazer discurso. E esses elementos definem o filme.

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A história foi ficcionada e escrita por Parker e por Jean Mcgianni Celestin e conta com episódios imaginários para melhor contextualização com os dias atuais. O filme de Nate Parker é homônimo do filme de cunho racista de 1915 e é o ponto de vista dos negros em relação à nação que estava se formando e refere-se à nação negra americana. Se  na primeira versão tem-se imagens ternas das relações entre brancos, da faceirice, do cotidiano familiar e das conexões de afeto, na versão de 2016 sobram judiações, desmandos, violências, injustiças e dores que justificariam um levante em qualquer circunstância. ” O Nascimento de Uma Nação” é uma homenagem a um homem que é considerado pelas comunidades negras americanas como um herói da resistência e que, hoje, inspira livros, cartoons, canções e agora um filme. E vem num momento mundial bombástico em que uma onda de fascismo se abate sobre o mundo  rechaçando negros, gays, refugiados, imigrantes etc.

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O filme ganhou o prêmio do público e o Grande Prêmio do Juri no Sundance 2016 e foi indicado ao Cavalo de Bronze no Stockholm Film Festival. Os destaques vão para a a trilha sonora de Henry Jackman de “Capitão Phillips” (2013), na qual consta a musica Strange Fruit  na voz de Nina Simone; e para as atuações, desde o próprio Nate aos demais , todos  estão imbuídos de uma  mesma energia. Um feito da direção, obviamente.

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O filme segue com a vibe que o nome inflama desde a primeira versão, a de ser um convite a. Se em 1915 insuflou o surgimento da KKK, em 2016 conclama à batalha campal ao som dos atabaques. Em tempos de Donald Trump  no poder, tudo é possível. E nessa linha de raciocínio me volto para Eiseinstein e sua visão de que o cinema ainda seria um instrumento para a revolução. Vai que…. Esse é para conferir.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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