O Orgulho (Le Brio) (Comédia/Drama); Elenco: Daniel Auteuil, Camélia Jordana; Direção: Yvan Attal; França/Bélgica, 2017. 95 Min.
As traduções dos títulos de filmes para a versão brasileira, não é de hoje, sempre deixam a desejar. “O Orgulho” não fala sobre orgulho, mas sim sobre amor-próprio, sobre honra, sobre dignidade, sobre brios. O longa dirigido pelo israelense Yvan Attal aborda as defesas de dois indivíduos de lados opostos da sociedade no que diz respeito a construção conceitual de existência e pertencimento a ela. De um lado um professor universitário de Paris II com valores conservadores e ‘pre-conceituoso‘; de outro, uma aluna franco-árabe que aspira ser bem sucedida socialmente. A abordagem é inteligente e sensível, pois ambos os lados têm o que aprender com o outro e o fazem.
Neilah Salah (Camélia Jordana) é uma aluna de direito, descendente de árabes que mora na periferia da cidade de Paris. Pierre Mazard (Daniel Auteuil) é um professor conservador que têm parâmetros bem peculiares para mensurar os outros. No contexto de uma crise institucional em que a universidade tem antecedentes de acusações de racismo, o epicentro se torna Pierre Mazard. Depois de constranger a aluna em plena aula, para não ser afastado pelo conselho universitário ele é chamado pelo chefe de departamento a orientar Neilah Salah para um concurso de oratória como estratégia para apaziguar os ânimos. É aí que reside o mote da trinca de roteiristas e do diretor para abordar as diferenças entre ambos, os equívocos da pre-conceituação, os lugares em que os dois têm intersecções e as brechas nas quais um pode aprender com o outro. Algo natural nas relações humanas.O diretor brinca competentemente com afeto, fraquezas humanas, com o encantamento e o estranhamento das relações. A questão não é o orgulho, a arrogância, a soberba, mas sim o amor-próprio e a dignidade no trato das relações e no pertencimento a um coletivo.
“Le Brio” tem atuações brilhantes de Daniel Auteuil e Camélia Jordana, que ganhou o César de melhor atriz pelo papel num roteiro com argumentações geniais abordando o poder da retórica, da persuasão e da leitura do outro em sociedade. “O Orgulho” é um jogo de xadrez bem jogado. Pena que a versão brasileira bagunçou o entendimento. O que é imperdoável num filme que aborda a importância da eloquência e da retórica. Mas, o filme em si vale muito a pena. Um primor!
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