O Outro Lado da Esperança (Toivon Tuolla Puolen/The Other Side of Hope) (Comédia/Drama); Elenco: Sakari Kuosmanen, Sherwan Haji, Jane Hyytiäinen, Ilkka Koivula, Nuppu Koivu; Direção: Aki Kaurismäki; Finlândia/Alemanha, 2017. 100Min.
Ganhador do Urso de Prata de Melhor direção no Festival de Berlim 2017 “O Outro Lado da Esperança” mostra recomeços e suas dificuldades. De um recém-separado a um imigrante sirio, de uma finlandesa que quer ir para o México, a um iraniano que já esta acostumado à vida de imigrante, e de todos os que se acomodam e não têm sonhos. A abordagem de Aki Kaurismäki abarca os desejos de mudanças, as dificuldades de inserção na nova realidade e as diferenças de códigos culturais, além do perfil dos acomodados. Tudo isso mergulhado em muita ironia, sarcasmo e humor negro, embalado por uma trilha sonora dissonante, em relação ao contexto, que privilegia as músicas locais.
A produção finlandesa e alemã conta a história de Wilkström (Sakari Kuomanen), um recém-separado que tenta reiniciar sua vida como dono de restaurante tentando de tudo para mantê-lo aberto e; Khaled (Sherwan Haji), um refugiado de Aleppo, na Síria, que tenta asilo político na Finlândia. Em meio a tudo isso tem a amiga de Wikström, Vaatekaupan (Kate Outinen) que, cansada da paz e do sossego da Finlândia pretende refazer a vida no México, e ainda, um amigo de Khaled que é iraniano, também é refugiado e que se contenta em ser cicerone de códigos culturais, além do grupo de empregados de Wilkström que são acomodados até as tampas. Passeando por esse contexto com o viés da esperança o que Aki Kaurismäki faz é abordar essas diferenças com sarcasmo e muita ironia fina. Conhecido por “O Homem Sem Passado” (2002) o finlandês Aki Kaurismäki tem como características em suas obras a paródia, a mistura de gêneros como ‘road movies‘, filmes ‘noir‘ e mistura de músicas em som direto como se a vida fosse um musical ou um show a céu aberto. Nessa abordagem, não se deve deixar de cogitar que aqueles – os músicos – também são esperançosos tentando suas sortes. Influenciado em sua carreira por Rainer Fassbender, Jean-Pierre Melville, Jim Jarmush e até uma nesga longínqua de David Lynch, percebe-se na obra de Kaurismäki a politização e a militancia discreta imiscuída a seu humor seco e competente. Em suas abordagens o cineasta seleciona um público antenado e com uma rede se significações ampla.
O longa-metragem é uma ode à diferença e sua melhor metáfora são os idiomas. Falado em finlandês, inglês, árabe e sueco o longa abocanhou prêmios mundo afora, dentre eles o de melhor diretor no Festival de Berlim (Urso de Prata); o FIPRESCI no San Sebastian International Fim Festival; o de melhor diretor no Festival de Munich e o prêmio Espirito de Liberdade no Festival de Jerusalém. Ainda foi laureado com o prêmio de melhor ator para o Sírio-finlandês Sherwan Haji. Os destaques vão para a direção de Aki Kaurismäki, é claro. É visível, para quem quem entende um pouquinho de cinema a digital de alma do cineasta finlandês na história de Wikström e Khaled; para a direção de arte de Markku Pätilä de “Luzes na Escuridão” (2006), que mistura tempos e signos de várias épocas sendo atemporal em sua essência, e a direção de fotografia de Timo Salminen de “Jauja”(2014).
“Toivon Tuolla Puolen” (no original) é um filme sobre recomeços com ênfase na questão imigrante, bastante em voga no momento. Mas, que não se detém no desespero, nem no terror da dificuldade e das incertezas. Ele paira pelas questões e batalhas enfrentadas cotidianamente em busca de sonhos e o faz com muita graça e suavidade. Possivelmente, foi essa maestria em Kaurimäki que lhe deu os lauréis conquistados. Aki Kaurismäki, também responsável pelo roteiro, conseguiu falar sério, mostrar as intempéries e as angústias sem pesar a mão e de forma competente.
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