Pelos olhos de Maisie

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Pelos olhos de Maisie

Por | 2014-02-01T22:31:00-03:00 1 de fevereiro de 2014|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Pelos olhos de Maisie. (What Maisie Knew). (drama); Elenco: Juliane Moore, Alexander Skarsgard, Steve Coogan, Onata Aprile; Diretor: Scott Mcgehee, David Siegel. USA, 2012. 99 Min.

Os últimos tempos têm se mostrado profícuo, no mundo todo, em relação às obras cinematográficas que tem seu contexto centrado no mundo da criança, dando uma atenção especial e com um olhar mais demorado sobre as questões específicas da infância. E tem surgido obras primorosas como Feito Gente Grande (Carine Tardieu, 2012; França) ; Heli ( Amate Escalante, 2013; México) En el nombre de la Hija (Tania Hermida, 2011; Venezuela) dentre tantos outros.

Dessa vez estamos falando da adaptação da literatura para o cinema de What Maisie Knew (Henry James, 1897) feito pelas roteiristas Nacy Doyne e Carrol Cartwright e dirigido por Scott Mcgehee e David Siegel de Suture (1993), Até o fim (2001) e Incertezas (2009) de um brilhantismo e uma atualidade espantosos e ambientado em New York.

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O filme se detém na perspectiva da criança em relação à crise de relacionamento – divórcio- dos pais, uma cantora de rock Suzana (Juliane Moore) e o empresário/marchand Beale (Steve Coogan). O recorte de tempo é de aproximadamente um semestre na vida Maisie (Onata Aprile) que são suficientes para perceber-se o descaso, o uso da menina como arma e uma negligência dolorosa sob os aspectos de cuidado e de vínculo emocional. A história de Henry James escrita no final do século XIX é absurdamente atual e a película mostra tudo isso em  Close up.  Saber que não se é amado sob o olhar da criança, a quem uma simples brincadeira distrai das agruras da vida. Um saber que não sabe como o é de fato, falta de amor, irresponsabilidade, negligência, desrespeito, mas que está presente na forma com a qual se sente o que se passa no entorno e tudo, no silêncio do olhar de Maisie.

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O filme estreou no festival de Toronto em 2012 e abocanhou indicações em outros festivais (aqui!) . Lembra o Feito gente grande em relação à percepção infantil das angústias e equivoco dos adultos, que é o cerne da questão do argumento. Juliane Moore está impagável como a irresponsável Suzana e o ator inglês  Steve Coogan atuando brilhantemente como um pai que agrada no conforto e nas provisões, mas que não consegue ver a filha como uma criança que precisa de atenção e amor, mas  é um ótimo palhaço e  faz rir. Onata Aprile, a pequena/grande atriz que interpreta Maisie, nem se fala, é de um olhar de expressividade abençoada e que deixa claro por onde Maisie apreende a realidade.

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Uma obra para se refletir sobre a responsabilidade da construção de um outro ser humano, sobre o quanto uma criança exige de tempo, de dedicação e atenção e que pais biológicos nem sempre são a melhor opção. A película sugere que o sofrimento não termina ali, aquele é um recorte do tempo do livro, mas às vezes o amor vem de fora, a exemplo da babá Margo (Joanna Vanderham) e de seu, também desprezado, padrasto, o bartender Lincoln (Alexander Skarsgard). É um filme para refletir e chorar um pouco ou bastante, talvez. Mas independente disso é uma excelente produção.

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Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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