O Silêncio do Céu

O Silêncio do Céu

Por | 2018-06-17T00:35:36-03:00 23 de setembro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

O Silêncio do Céu (Era el Cielo) (Drama/Thriller); Elenco: Leonardo Sbaraglia, Carolina Dieckmann, Chino Darín, Mirella Pascual; Direção: Marco Dutra; Brasil, 2016. 102 Min.

Produção brasileira, filmada no Uruguai, falada em espanhol e dirigida pelo paulista Marco Dutra “O Silêncio do Céu” é uma obra de sobreposição de camadas narrativas. Uma majoritariamente imagética, outra verbal em tom confessional, que juntas, fazem uma costura competente com o viés principal da abordagem: a radiografia de nossas subjetividades, do que somos sem dizer… dos nossos silêncios. Baseado no livro “Era el Cielo” de Sergio Bizzio o longa-metragem é poderoso e incômodo.

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Diana (Carolina Dieckmann) é uma modista bem sucedida, mãe de dois filhos que acaba de reatar o relacionamento com o marido Mário (Leonardo Sbaraglia), um roteirista de telenovelas. Certo dia Diana é violentada dentro de sua casa por dois homens e não conta nada a ninguém. Mário assiste a tudo sem saber o que fazer e ao mesmo tempo tentando fazer algo ( não é spoiler, está na trailer). Daí em diante sua vida se reduz a tentar ajudar a mulher e descobrir quem são os indivíduos para vingar-se. Nesse ínterim o roteiro viaja pelo que Diana sente através de suas reações no cotidiano e pela alma de Mário através de sua narrativa sobre seus medos  e impotências. E essa é a grande maestria do roteiro. Ali se desenha a fortaleza e as fragilidades de uma mulher. Ali se desenha os conflitos de um homem e se monta um mosaico de personalidades. Escrito a seis mãos: pelo autor do livro, por Caetano Gotardo de “O Que Se Move” (2013) e Lúcia Puenza de “XXY” (2007), o roteiro de “O Silêncio do Céu” se agiganta pelo viés escolhido: a subjetividade de um homem e de uma mulher numa relação a dois e sua conexão com o mundo (os filhos, o trabalho, etc.). O que ajuda a contar essa história dando consistência e suporte narrativo é a fotografia de Pedro Luque de “O Homem nas Trevas” (2016) que se harmoniza com a história misturando  suspense e drama, que do início para o meio incomoda, e do meio para o final empolga.

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Produzido por Rodrigo Teixeira, o midas da cinematografia brasileira no momento, que tem no currículo filmes nacionais e internacionais como  ” O Cheiro do Ralo” (2006), “Tim Maia” (2014), e “Love” (2015), “A Bruxa” (2016) entre outros, ” O Silêncio do Céu” é uma reunião de talentos da América Latina. Roteiristas, atores e equipe brasileiros, argentinos e uruguaios. Em suma, uma diluição de fronteiras. Marco Dutra, diretor, roteirista e compositor brasileiro, com uma carreira internacional bem sucedida e que esteve recentemente no circuito com “Quando Eu Era Vivo” (2014), dirige este projeto latino-americano produzido pelo Brasil como uma sinfonia lúgubre de dor e poesia. No elenco o argentino Leonardo Sbaraglia de “relatos Selvagens” (2015), a uruguaia Mirella Pascual de “Whisky” (2004), a brasileira Carolina Dieckmann e Chino Darín, filho de Ricardo Darín,  que mostra que filho peixe, peixinho é. No que concerne  à poesia não escapa nem Tom Jobim numa capela belíssima.

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Ganhador dos prêmios do Juri e da Crítica do Festival de gramado 2016 ” O Silêncio do Céu” leva o espectador pelos corredores das almas desses dois personagens entorpecidos pela dor com  tensão e, até, certa dose de alegria, pois a história tem crianças. Versando sobre os silêncios dos medos e das coragens; sobre a reinvenção de nós mesmos a partir de um episódio forte, o filme é  incomodo e perturbador na medida certa e nos faz refletir sobre o que importa de fato. É o Brasil mostrando seu valor em espanhol.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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