O Teorema Zero

O Teorema Zero

Por | 2014-07-16T05:08:26-03:00 16 de julho de 2014|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Nota: este texto contém spoilers

O teorema Zero (The Zero Theorem). (Drama/ Fantasia/Ficção Científica). Elenco: Christoph Waltz, Melanie Thierry, David Thewlis; Diretor: Terry Gilliam. USA/Romenia/UK/França; 2013. 107 Min.

Título estranho para falar de um filme esquisito. A mais recente obra de Terry Gillian, que foi diretor e roteirista do grupo inglês Monty Python da televisão britânica, famosos por suas piadas,  sacadas políticas e heréticas, no melhor estilo comédia sketch, humor surreal e nonsense, é “Teorema zero”. O filme não ficou para trás. Em relação ao surrealismo, é uma ficção científica que mistura matemática, física, filosofia, psicologia e fé. “Teorema Zero” é o ludismo do caos. Sim, a teoria do caos.  Que é muito bem representada pelos cubos matemáticos do projeto do teorema zero.

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É a história dos dilemas de Qohen Leth, interpretado pelo oscarizado Cristoph Waltz de “Django Livre” (2012) e “bastardos Inglórios” (2009), ambos dirigidos por Quentin Tarantino, sempre às voltas com sua identidade e com a necessidade de exercício de sua individualidade. Ele questiona o sistema de organização social, pergunta-se sobre o sentido da vida, sobre a morte e vive em crise existencial. Funcionário de uma empresa de tecnologia que quer descobrir o teorema zero da física ele é enviado para o setor de pesquisas para participar do projeto.

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O enredo é atemporal e sem local determinado. A disponibilidade de signos para descrever o caos e a sua sensação está por toda a parte. Na desorganização da cidade, das instituições, das emoções e das crenças. O único lugar seguro é a mente do indivíduo. Mas, como em “1984” de Michael Radford, a liberdade de pensamento, expressão e o amor são proibidos, além da vigilância permanente de Management (Matt Damon) de “Identidade Bourne” (2002), que corresponde ao grande irmão que tudo vê, e cuja característica principal, é a camuflagem. A realidade e a virtualidade também fazem parte da costura no velho estilo “Matrix” (1999/2003) que, aliás, é homenageada numa fala entre Qohen e Bob (Lucas Hedger) de “Moonrise Kingdon” (2012).

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A questão matemática é posta, ludicamente, através da construção do mundo com fórmulas exatas; as filosóficas são discutidas à exaustão: a liberdade só existe na imaginação, e imaginação é um lugar. A questão política é dada pelos ratos que sempre comem da mesa dos homens e sempre estão presentes em todos os ambientes, e pelo instrumento de destruição do sistema, um martelo. A fé é questionada e, a capacidade de criação do mundo pelo próprio homem é aventada. As simbologias são muitas, as pinturas  das paredes da igreja, as estátuas dos santos católicos, os supercomputadores, a tecnologia, as discussões com a psicanalista Drª Shrink-rom (Tilda Swinton) de “Crônicas de Nárnia” (2005) e o amor virtual com Bainsley (Melanie Thierry). Todos esses elementos além de serem discutidos, são apresentados na mise-en-scène nos primeiros quinze minutos, numa bagunça metalinguística de exponencializar a atenção para fazer as conexões depois.

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Terry Gillian dirigiu “Os 12 macacos” (1995), além de outros filmes de sucesso. Mas em “O sentido da Vida” (1983), para falar da obra que mais tem a ver com o “Teorema Zero”,  ele  apresenta as possibilidade de sentido que damos à vida somente para questioná-las: a ciência, a família, a religião, a política, a intelectualidade e até a morte entram na listinha. O trabalho é de uma riqueza filosófica de babar, e que Terry vem repetindo elevado ao cubo em “Teorema Zero”. Roteirizado por Pat Ruslain  já ganhou o prêmio de menção especial no Festival de Veneza (2013)

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O filme é difícil, seleciona público, além de ser um aulão de reflexão existencial. É pra quem gosta de física, matemática, filosofia e que tenha acuidade no olhar. Gillian não economizou, não fez por menos e nem teve misericórdia, fez da cabeça a câmera. Agora, é para ficar até o fim dos créditos porque ainda tem filme, e é a cereja do bolo.

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Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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