O Último Ato. (The Humbling). (Comédia/Drama); Elenco: Al Pacino, Kyra Sedgwick, Greta Gerwing, Nina Arianda; Diretor: Barry Levinson; USA/Italy, 2014. 112 Min.
Baseado no livro “The Humbling” de Philip Roth, “O Último Ato” é uma produção americana em parceria com a Itália, que traz nomes de peso do cinema, teatro e literatura americanos. E não deixa de apreciar o grande nome da tragédia, o inglês William Shakespeare, que está presente no encaminhar da história, no sentido existencial e na linguagem e definição teatral. A crítica a críticos de artes, em geral, também está presente e, em muitos aspectos nos remete a “Birdman”.
Dirigido por Barry Levinson, oscarizado por “Rain Man” (1988) e roteirizado pela trinca Buck Henry de “Agente 86”, série de TV da década de 60, e indicado a dois Oscares por: “O Céu Pode Esperar” (1978) e “A Primeira Noite de Um Homem” (1967); Philip Roth e a novata, Michal Zebede, o filme conta a história de ator decadente, Simon Axler (Al Pacino), que não consegue mais decorar seus textos e se encontra em franco processo de decrepitude. Depois de uma internação numa clínica psiquiátrica, vai para uma residência reservada, onde continua o tratamento via Skipe. E conhece Peggen (Greta Gerwing), que é lesbica, e iniciam um romance regado a muito humor, discussão existencialista, intromissão de família e delírios entre realidade e fantasia.As questões discutidas são: a velhice, a decadência pessoal, profissional, sexual e social; o desequilíbrio psicológico e as diferenças sutis entre viver e atuar no tablado. A metáfora fotográfica de Adam Jandrup é belíssima, apresentando as paisagens das estações do outono e do inverno, numa insinuação das possibilidades de sonho nessa fase da vida.
Mas o ponto forte de “O Último Ato” é Philip Roth, o autor do livro, e que também roteiriza a obra cinematográfica. Vencedor do prêmio Pulitzer (1998) pelo primeiro volume da trilogia sobre o modo de vida americano, “American Pastoral”. Foi indicado ao prêmio Nobel de literatura várias vezes e, é considerado um dos maiores escritores norte-americanos da segunda metade do século XX. Não é para menos, é o único escritor a ter suas obras completas publicadas, em vida, pela Library of América, que tem como missão preservar obras consideradas parte da herança cultural americana.
A equipe de atores também não fica para trás. Al Pacino, que adquiriu os direitos para o filme, além de interpretar, também é um dos produtores e dispensa apresentações como ator de cinema. Mas seu lado ator de teatro, que também é trazido pela história, é glamouroso, ganhador de dois Tonys em 1969 e 1977, Al também é conhecido por dirigir peças de teatro, e fez sua estreia, como tal, com Shakespeare. Logo, está plenamente em casa em “O Último ato”. Greta Gerwing indicada ao Globo de Ouro por “FrancesHa” (2012), não deixa a peteca cair contracenando com o monstro do tablado e do cinema. Mas, quem rouba a cena mesmo, é Nina Arianda (Sybil), de “Meia Noite em Paris” (2011) – a louca da clínica psiquiátrica – com uma interpretação e intervenção dissonante em relação a personagem de Al Pacino. Ela é o antagonista de Simon, no que diz respeito ao balizamento entre sanidade e loucura. É a que vive fora da realidade sem precisar do teatro como desculpa, e até situa Simon na realidade de vez em quando, é o seu tratamento de choque. A trilha sonora é de Marcel Zarvos de “As Palavras” (2012), indicado a 2 primetime Emmys. O filme foi exibido no Festival de Toronto (2014), em apresentação especial e no último festival de Veneza, fora de competição.
“O último Ato” é uma ópera moderna que faz uma fusão entre a atuação ficcional e a atuação no cotidiano. É a fabulação entre o teatro da realidade e a realidade do teatro. Postula a vida como um palco e situa o ato, no crepúsculo da existência, sem perder o rebolado. O filme de Barry Levinson é uma comédia sofisticada temperada com uma colher de sopa de ironia e vale o quanto pesa.
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