Os Fantasmas de Ismael – a vividez como prioridade

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Os Fantasmas de Ismael – a vividez como prioridade

Por | 2018-05-30T03:56:07-03:00 30 de maio de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Os Fantasmas de Ismael (Les Fantômes d’ismaël/Ismael’s Ghosts) (Drama/Romance/Thriller); Elenco: Mathieu Amalric, Marion Cotillard, Charlotte Gainsbourg; Direção: Arnaud Desplechin; França, 2017. 114 Min.

 

O filme do cineasta Arnaud Desplechin versa sobre as escolhas duais. A escolha de viver a própria vida sem dar satisfações, tomar as rédeas de sua jornada sem olhar para trás, nem para ninguém e a escolha de ficar preso. Preso a um amor que não existe mais, ou nunca existiu, Preso a convenções, preso a compromissos fantasiosos. As perguntas capciosas são: Quem vive melhor? Quem vive de fato? Essa, possivelmente, é uma das reflexões fomentadas de forma livre, deixando o espectador com suas próprias ilações, sem direcionamentos.

Ismael (Mathieu Amalric) é um cineasta que está escrevendo um roteiro para seu filme e vive perturbado pelo desaparecimento de sua mulher, Carlota (Marion Cotillard), há 21 anos. Sempre solícito ao sogro, Henri (Laszlo Szabó), que não consegue superar a perda da filha e vive preso a lembranças, e que se refugia no genro como uma sombra de sua filha perdida, Ismael corresponde por sentir-se amado por tabela. Um belo dia Carlota reaparece linda, leve e solta. Sem a menor culpa, contando sua vida, o que havia feito nesses 21 anos, trabalhos nos quais havia exercido uma profissão, o casamento e viuvez com um indiano e suas aventuras pelo mundo. Promovendo uma hecatombe na vida de Ismael e Henri. Ismael já tinha reconstruído sua vida e estava casado com Sylvia (Charlotte Gainsbourg).

O que o roteiro propõe de forma solta e livre é uma análise sobre as decisões de cada personagem. Sobre as atitudes de cada um diante de sua própria vida, sobre o adonamento ou não de si mesmos e de suas histórias. O julgamento moral não se sustenta no roteiro de Arnaud Desplechim e de mais duas mulheres, Julie Peyr e Lea Mysius. Eles nos trazem uma abordagem que sugestiona o olhar para se por no lugar de Carlota, que é livre, feliz e viveu sua vida. Viveu o que jamais teria vivido se estivesse presa às regras sociais e convenções. Despojada de patrimônio e vaidades fúteis e vis, Carlota se assemelha a um eremita dentro da cidade com suas engrenagens e mecanismos sem se deixar prender, quase uma louca, justamente pela sua subversão feliz e sem culpa.

 

Quanto às tecnicalidades, as interpretações são o crème de la crème do filme. São elas que dão o tom de cada escolha e conquista ou não o espectador. Cada um defende veementemente sua escolha: a de abandonar tudo e viver ou a de ficar preso e chorar. Os embates são brilhantes, com destaques para Mathieu Amalric de “A Pele de Vênus”(2013), Marion Cotillard de “Macbeth: Ambição & Guerra” e o aclamado diretor Laszlo Szabó. Arnaud Desplechin de “Três Lembranças de Minha Juventude” (2016) e “La Vie des Morts” (1991) teve uma de Philippe Garrel de “Amante Por Um Dia” (2017) sem o P&B, trazendo reflexões livres tracejando o caminho através de diálogos. Para além da fotografia e da trilha sonora “Os Fantasmas de Ismael” é pautado por questões existenciais que são a argamassa de sua estrutura.

Ver o longa de Desplechin e digeri-lo não é um teste de inteligência e alteridade, é uma possibilidade de pensar fora da caixinha sobre decisões pessoais. “Os Fantasmas de Ismael” fomenta no espectador uma análise sobre si mesmo, a partir da preferência por lados e da ausência ou presença de desprendimento para enxergar de outro lugar e cogitar a possibilidade de ações, para além de considerações morais. Vaticinando: Subversão sofisticada.

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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