Pais & Filhas (Fathers and Daughters) (Drama); Elenco: Russell Crowe, Amanda Seyfried, Aaron Paul, Jane Fonda, Quvenzhané Wallis; Direção: Gabriele Muccino; USA/Itália, 2015; 116 Min.
“Pais & Filhas” é uma história sobre o amor e suas ressonâncias na vida das mulheres, cujo recorte é a relação de um pai com sua filha estendendo-se pelos traumas emocionais que mais tarde constituirão o arcabouço psicossocial da menina. Com uma pegada meio Nicholas Sparks misturada com Freud e uma gostosa viagem pela energia entre Russell Crowe e a sapeca Kilye Rogers, o filme traça um painel de explicações das atitudes dissonantes das mulheres ao longo da vida.
Jake Davis (Russell Crowe) é um prêmio Pulitzer de literatura que perdeu a mulher num acidente de carro e ficou com sequelas neurológicas e uma filha pequena para criar, Katie (Kylie Rogers/Amanda Seyfried). Escritor de talento, com problemas de saúde e a responsabilidade de conduzir o futuro da filha, passa a ser perturbado pela cunhada Elizabeth (Diane Kruger) que quer adotar a sobrinha sob a alegação de falta de capacidade do pai para criá-la. A trama se desenvolve mostrando o núcleo familiar de Jake e de Elizabeth, cujo link são as mulheres e a criação de suas redes de significações sobre o amor de forma geral, e que mais tarde será o braço que se bifurca nas diversas modalidades de amor às quais vivemos (o de mulher, o de mãe, o de filha e o fraternal).
O viés do longa-metragem é o sentimento de amor que se conhece a partir do amor maternal e paternal e suas consequências (na administração de quem o recebe) para o resto da vida. Diferente de “Homens, Mulheres & Filhos” (2014) de Jason Reitman, em que a condição de pais é um papel social desempenhado por homens e mulheres, primordialmente. Em “Pais & Filhas” o arcabouço dessa relação é que é o start para a constituição de homens e mulheres. E nesse caso, mulheres, já que o status é de filha. Essa premissa é bem desenhada pelas analogias em que são postas as personagens: Elizabeth, Kate e Lucy (Quvenzhané Wallis) em relação às causas e consequências emocionais advindas de suas relações com seus progenitores.
Dirigido pelo italiano Gabriel Muccino de “À procura da Felicidade” (2006) que tem talento para encontrar pérolas em situações corriqueiras e desenvolvê-la com propriedade – sempre na seara do humano- e roteirizado por Brad Desch, “Pais & Filhas” tem um elenco respeitável, uma trilha sonora que se mistura diretamente à história e uma fotografia que faz uma pintura dos sentimentos reinantes nos núcleos de cada personagem. Quanto ao elenco vai da diva Jane Fonda – que dispensa apresentações – à pequena notável Quvenzhané Wallis de “A Indomável Sonhadora” (2012) passando por Aaron Paul de “Breaking Bad” (série de TV). Quanto a trilha sonora assinada por Paolo Buonovino de “Caos Calmo” (2008) mistura no mesmo caldo Haydn, Beethovem e “The Carpenters” com Close to You – meio açucarado mas funciona- já a fotografia de Shane Hurlbut de “Game of thrones” (You win or you die) e “O Exterminador do Futuro: A Salvação” (2009) vai do ensolarado ao soturno e lúgubre com propriedade.
Em suma, “Fathers and Daughters” (no original) é a história de uma filha, contada por seu pai através de um livro e que extrapola a própria história. É o livro dentro do filme e o filme dentro do livro e que versa sobre as defesas que construímos na vida emocional que estão diretamente ligadas à infância; as consequências da falta de amor e do medo dele. Tudo isso com as peculiaridades concernentes à alma feminina. Nada mal para uma história escrita e dirigida por homens. Para quem gosta de filmes açucarados é uma boa pedida.
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