Para Minha Amada Morta

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Para Minha Amada Morta

Por | 2018-06-17T00:20:16-03:00 31 de março de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Para Minha Amada Morta (Ação/Drama/Triller); Elenco: Fernando Alves Pinto, Mayana Neiva, Lori Santos; Direção: Aly Muritiba; Brasil, 2015. 140 Min.

Poucos filmes conseguem contar uma história de vingança cuja coluna vertebral seja o processo de digestão da dor que o catalisou e do desejo que se tornou obsessão, por motivos óbvios: a alta subjetividade da empreitada e a livre interpretação/leitura/fabulação que a linguagem imagética proporciona, dificultando essa transmissão ‘precisa’. Mas toda regra tem exceção, e “Para Minha Amada Morta” parece ser uma delas.

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Fernando (Fernando Alves Pinto), um fotógrafo policial, foi casado com a advogada Ana (Michelle Pucci), pai de Daniel (Vinícius Sabag), uma criança feliz, num lar feliz. Até que sua esposa falece. Após o acontecido Fernando se torna quieto e circunspecto, cuida de seu filho sozinho e vive o processo de luto, resgate de memória dos momentos felizes e a seleção dos pertences que vão e os que ficam. Até que um dia, assistindo aos vídeos caseiros, encontra o registro de um affair de Ana com Salvador (Lori Santos), um ex-presidiário que fora seu cliente. Fernando perde o chão com a história e resolve investigar Salvador e se descobre patologicamente envolvido nesse processo de vingança.

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O ponto nevrálgio do longa é a forma com a qual Fernando tem consciência da sua inesperada obsessão e o quanto pondera as ações. O registro do processo de digestão dessa dor é brilhantemente abordado no filme. O longa insere o espectador numa aura de suspense sem clichês do gênero. A maestria da história são os silêncios e as situações que apresentam o indivíduo para si mesmo e para o outro. O mote da história é  o quanto o que se sabe é capaz de mudar tudo o que vivemos no passado, a forma com a qual passamos a ver estas memórias e a nós mesmos, o quanto isso altera o presente e o valor da ignorância, do não saber. E mais, o quanto quem tira a nossa paz somos nós mesmos quando damos poder ao outro.

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Dirigido e roteirizado pelo baiano Aly Muritiba de “O Pátio” (2013), o longa-metragem é uma produção nacional que ganhou a Zenith de Prata do Festival de Montreal, foi indicado ao Horizons Awards do Sán Sebastian International Film Festival, além de ter sido seleção oficial de festivais de filmes no Brasil e mundo afora. Aly Muritiba tem no currículo o prêmio Global Filmaking do Festival de Sundance 2013 pelo  projeto de  “Para Minha Amada Morta” ; foi semi-finalista no Oscar 2013 na categoria curta-metragem com “A Fábrica” e o único representante da América Latina na semana da Crítica do Festival de Cannes 2013 com “O Pátio”. Ou seja, diretamente de Mairi, na Bahia, para o mundo.

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Totalmente filmado em Curitiba, no Paraná, “Para minha Amada Morta” passeia de forma lúcida por todo um processo de luto, mostrando o quanto não nos conhecemos e não sabemos do que somos capazes; o quanto acontecimentos podem mudar nossa perspectiva, traçando um painel do poder do saber e da benesse da ignorância; e que quem pode fazer mal a nós somos nós mesmos. Revertendo todo um processo de vingança pelo uso da inteligência, “Para minha Amada Morta” é uma espécie de “lobo Atrás da Porta” as avessas, apresentando uma vingança sutil e primorosa. Genial e libertador!

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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