Permanência

Permanência

Por | 2018-06-16T23:53:44-03:00 28 de maio de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Permanência (Drama); Elenco: Irandhir Santos, Genésio de Barros, Rita Carelli, Laila Pas; Direção: Leonardo Lacca; Brasil, 2014. 90 Min.

Grande vencedor do Cine PE 2015, “Permanência” conta a história de Ivo (Irandhir Santos), fotógrafo pernambucano, filho bastardo de um industrial paulista, que vem a São Paulo para realizar sua primeira exposição individual. Deixa a namorada em Recife e se hospeda na casa de Rita (Rita Carelli) de quem outrora fora namorado  e que, hoje, é casada com Mauro (Silvio Restiffe). E acaba tendo um affair com Laís (Laila Pas).

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“Permanência” traz questões cotidianas do amor a serem pensadas atravessadas pela linguagem imagética – a fotografia – e a linguagem corporal nos interstícios da vida. Com pouquíssimos diálogos, em sua maioria, curtos e estanques, o filme trabalha com o olhar e os silêncios. As costuras são as múltiplas relações furtivas, e naturais, que vão acontecendo na vida amorosa com suas díspares consequências, os  movimentos da vida e o  exercício da natureza humana e a distância, a separação e a diferença que isso tem de amor, daquilo que fica.  “Permanência” é um balé de sondagem da presença do OUTRO na vida do UM, e o diagnóstico de sua importância, da conexão de tudo isso com a vida que segue, com outros amores que se vive a posteriori, mas que nem por isso aquele deixa de ter importância. Para dizer tudo isso Leonardo Lacca  usou o silêncio e o momento morto da fotografia, aquela que nos permite vaguear o olhar  e perceber o que na ação não se percebe, que nos permite encontrar o que nos toca; e metáforas, como a da limpeza das lentes, a do equívoco das palavras e a da assertividade da não-palavra.

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O longa de estreia de Leonardo Lacca lhe rendeu o prêmio de melhor diretor no Festival da Fronteira e cinco troféus Calungas no Festival de Pernambuco:  Melhor filme, melhor direção de arte, melhor ator coadjuvante (Genésio de Barros), melhor Atriz (Rita Carelli) e melhor atriz coadjuvante (Laila Pas), além de ter sido exibido em vários festivais de filmes no Brasil e no exterior. Produzido por Emile Lesclaux, de “O Som ao Redor”, com fotografia de Pedro Sotero de “Casa Grande” e direção de arte de Juliano Dornelles de “Brasil S/A” , “Permanência” contou ainda com o talento do momento Irandhir Santos de “A historia da Eternidade”.

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A obra cinematográfica de Lacca é o registro de uma saudade, o atestado de  sua correspondência e a imagetização da espreita, do estar ao derredor. São registros de significações silenciosas “desdicionarizadas”, quase uma poesia. Nos remete  ao poema  “Quadrilha” de Carlos Drumond de Andrade. Um balé de vida, de como a vida funciona, sem questionamentos nem fabulações, só percepção e sentidos.

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“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém….” (Carlos Drumond de Andrade)

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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