Personal Shopper

Personal Shopper

Por | 2017-03-16T01:00:31-03:00 16 de março de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Personal Shopper (Drama/Mistério/Thriller); Elenco: Kristen Stewart, Nora von Waldstätten, Lars Eidinger; Direção: Olivier Assayas; França/Alemanha, 2016. 105 Min.

Uma história de fantasmas, sobre fantasmas, com fantasmas e com todas as nuances de significações que pode ter a palavra. Que vão de um simples espírito – se é que isso é um conceito simples – até a abordagem de possibilidades de nossa própria invenção de realidade. E esse viés sutil de “Personal Shopper” que tem cara de filme de terror à la M. Night Shyamalan, mas que vai além,  passeia pela seara do espiritismo e desemboca no questionamento sem macular a doutrina.

Maureen Cartwright (Kristen Stewart) é uma profissional assessora de compras para uma modelo famosa, Kyra (Nora von Waldstätten), que há pouco havia perdido o irmão gêmeo e ainda estava de luto. Os dois haviam feito um combinado de que o primeiro a partir daria um sinal para o outro sobre haver vida após a morte. Médium, Maureen começa a  pesquisar sobre a forma com a qual os espíritos entram em contato com os vivos, quando percebe que tem alguém desencarnado querendo falar com ela. Não sabendo se é o ou não o irmão, Maureen faz experiências. Ao mesmo tempo sua vida profissional e pessoal começa a sofrer perseguição de um indivíduo psicótico via messenger o que acaba envolvendo-a em um assassinato. Bem desenhado os lados espiritualista e a realidade, o longa de Olivier Assayas, dirigido e roteirizado por ele, mistura as duas dimensões, evita infantilizações e clichês batidos do gênero de terror, mas brinca com isso. Passeia pela História do Espiritismo com registros dos primeiros contatos de desencarnados com os vivos e questiona respeitosamente. Tudo isso com o pé no chão ancorado no cotidiano de Maureen.

“Personal Shopper” não é uma ode ao espiritismo, nem um filme de terror bobo. O longa versa sobre as possibilidades de realidade ou não dos contatos espiritualistas. Diferente de “Body” (2015) da polonesa  Malgorzata Szumowska que  defende a comunicação e a aproximação dos dois mundos, principalmente, para resolver questões dos que ficam e que disserta sobre a instauração da doutrina, “Personal Shopper” deixa um ponto de interrogação magnífico no final. O filme foi indicado à Palma de Ouro e ganhou melhor diretor no Festival de Cannes 2016.

Olivier Assayas que dirigiu “Acima das Nuvens” (2014) que deu o César – o Oscar francês – a uma americana, não por acaso a Kristen, está em sua vigésima nona direção e tem chão na carreira de roteirista. Kristen Stewart prova a cada dia que nasceu para brilhar sem ligar muito para isso e se apresenta uma das boas revelações da última década, de Bella da saga “Crepúsculo” a Vonnie de “Café Society” de Woody Allen, Kristen tem trilhado um caminho consistente em sua carreira. Além dela, o destaque vai para a fotografia de Yorick le Saux de “Amantes Eternos” (2013).

“Personal Shopper” não é um filme extraordinário, mas é um filme inteligente sobre um tema ordinário (comum) com uma abordagem que escapa aos clichês de terror, embora os use e de forma irônica. Com boas interpretações e uma excelente fotografia, “Personal Shopper” é altamente recomendável se o objetivo é divertir e questionar a realidade de leve.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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