Policia Federal: A Lei é Para Todos

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Policia Federal: A Lei é Para Todos

Por | 2018-06-17T01:03:04-03:00 7 de setembro de 2017|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Polícia Federal: A Lei é Para Todos (Federal Police: No One is Above the Law) (Ação/Crime/Thriller); Elenco: Antonio Calloni, Marcelo Serrado, Ary Fontoura, Flávia Alessandra, Bruce Gomlevsky; Direção: Marcelo Antunez; Brasil, 2017. 107 Min.

“Uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade” 

(Joseph Goebbels)

O cinema sempre foi instrumento de propaganda ideológica e política por ser um veículo de massa com um signo aberto – o imagético – sem blindagens. Serviu ao nazismo, serviu aos desígnios da Guerra Fria e foi a primeira visão de Einsenstein para fazer ‘A Revolução’ que o diga “O Encouraçado Potemkin”. E é este o viés de “Polícia Federal: A Lei é Para Todos”, o longa é um filme de propaganda político/partidária, sem nenhuma preocupação com a lógica política nem a procedência dos fatos. É um painel de criação de verdades, um ópera de desconcertos a trabalho das forças de direita do país recém tomado por um golpe político. Alguns podem perguntar: E dai? Algum problema nisso? Não. Este é o mais legítimo exercício de democracia: dar vez e voz a ambos os lados. Já que também tivemos filmes que abordaram os protestos de 2013 e mais recentemente, o filme “Olympia 2016” que não deixou de ser uma denúncia de corrupção nas Olimpíadas 2016.

O que incomoda no longa-metragem dirigido por Marcelo Antunez é a disfarçatez de isenção, a mistura de fatos e engendramentos que não respeitam temporalidade e nem  o contexto político. O que alteram significativamente o objetivo da maior operação de combate a corrupção no Brasil empreendida pela Polícia federal brasileira. E acaba se tornando um instrumento que objetiva cooptar o espectador despolitizado. A história aborda a operação Lava-Jato implementada em 2014, em pleno governo Dilma Roussef , que visava, àquela época,  atacar a corrução política no Brasil, em suas várias fases. Mas sem marcação temporal nem contextualização política ela carece de links que expliquem as mudanças de viés de investigação a partir das trocas de poder de mãos. Sem esse lastro o enredo constrói sua história de forma tendenciosa e maniqueísta descambando para o grande teatrão que está sendo a perseguição ao Partido dos Trabalhadores (PT), suas políticas de inclusão social e achincalhe caricatural da pessoa na qual consiste o símbolo dessa política, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Isso sem falar que sequer o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) é citado uma única vez ao menos.  Sem nenhuma costura de coerência, o longa-metragem mete os pés pelas mãos em contar um capítulo da História da política brasileira e se transforma – não sem intenção –  numa amostra sobre como o cinema se torna e se tornou, ao longo da História, um instrumento de propaganda tendenciosa, como fizeram Lenin, Adolph Hitler, Mussolini, os EUA na Guerra Fria e por aí vai.

Também pudera, olhando para os exímios currículos (ironia) da equipe de produção, não há porque se surpreender. O desfile de obras rasas e superficiais é gritante.  A confraria de xarás fez um trabalhado tosco. O diretor Marcelo Antunez é conhecido por  “Até que a Sorte nos Separe 3: A falência Final” (2016). A Fotografia. muito boa por sinal, é de Marcelo Brasil de “E Aí… Comeu? (2012) e a edição é de Marcelo Moraes de “Vai que Cola: O Filme” (2015). Como vemos, só filme estreito. E quem interpreta o juiz Sergio moro é Marcelo Serrado. Mas o destaque vai mesmo para o roteiro de Thomas Stavros oriundo da série de TV “Sem Volta” (2017) e Gustavo Lipsztein de “1 Contra Todos” (2016) e não deve ter sido nada fácil torcer tanto a realidade para caber no plano da câmera. Deve ter sido um trabalho homérico misturar a fase séria da Lava-Jato com a fase fake de desmonte e perseguição pós golpe político.

“Polícia Federal: A Lei é Para Todos” é uma aula de retórica, de persuasão, de criação de verdades e um teste de inteligência política, selecionando um público despolitizado. “Polícia Federal: A lei é Para Todos” é um certificado de subestimação de inteligência alheia com um viés pseudo-isento, uma manipulação grosseira com uma trilha sonora pobre e indutiva. O longa em termos de fotografia, atuações e ação é um bom produto, mas isso se perde em meio a política partidária maniqueísta. A obra cinematográfica é uma vergonha pública sobre como, nós os brasileiros, não temos nenhum senso político gregário, sobre como brincamos com coisa séria, sobre como estamos numa esquizofrenia política coletiva. Além de ser um achincalhe para o público para o qual é dirigido, o pobre de direita. “Polícia Federal: A Lei é Para Todos” é uma piada a partir do título e beira as árias do ridículo. Para fraseando alguns colegas, é uma verdadeira MOROCHANCHADA….É, o Brasil não é para principiantes.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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