Ponto Cego (Blindspotting) (Comédia/Crime/Drama); Elenco: Daveed Diggs, Rafael Casal; Direção: Carlos López Estrada; USA, 2018. 95 Min.
‘Ponto cego’ versa sobre o que está diante de nós e não vemos, imiscuído no cotidiano da cidade Okland na Califórnia. Sua abordagem é a vida de famílias negras e sua forma de esta no mundo, Costurado pela história de um ex-presidiário negro e sua luta diária para manter-se longa da criminalidade ou à suspeita dela e cumprir sua condicional. Partindo daí os roteiristas Rafael Casal e Daveed Diggs (que também estrelam o filme) mostram a luta pela sobrevivência, as discriminações, as violências cotidianas, a diferença entre brancos e negros no mesmo espaço e com a mesma condição social. Com a direção inteligente do mexicano Carlos López Estrada a produção americana é um mosaico dequestões sociais e culturais que dá gosto de ver.
Collin (Daveed Diggs) e Milles (Rafael Casal) são amigos de longa data. Collin cumpriu pena e sai em condicional. Seu desafio é cumprir essa última etapa sem problemas com a polícia num bairro violento e se tornar um cidadão livre. Mas Collin é negro, num contexto de fragilidade social e Milles é branco vivendo no mesmo espaço geográfico, mas uma realidade mais leve. Esses dois paradoxos juntos em forma de amizade traz questões raciais, sociais, culturais e educacionais para a história que são muito bem abordadas pelos dois como roteiristas e como atores sob a batuta do diretor Carlos López Estrada em seu primeiro longa-metragem.
O que se destaca em “Ponto Cego”, além do roteiro é a trilha sonorade Michael Yerzerski e as músicas negras postas ao longo da exibição, numa vibe de valorização da cultura e de identidade negra. As atuações de Daveed Diggs de “Extraordinário” (2017) e Rafael Casal são primorosas e os dois vão além. Na trilha sonora tem música deles (composição e interpretação) como “Not a Game” e “Crepe-Nuts” fechando redondinho com a história e mostrando um preciosismo admirável.
“Ponto Cego” é um filme político, filosófico, sociológico e psicológico, mas, sobretudo, é uma obra que figura no espaço livre do cinema como “Chatêau-Paris” mostrando um lado da realidade de uma cidade que ninguém quer ver, que ninguém presta atenção. Mas, que existe, está lá. No longa de Carlos López estrada somos (espectadores) postos no lugar de Collin, para ao final a personagem nos mostrar num discurso magnífico de dor qual é lugar de quem não é negro. Deixando um mosaico que nos diz que só quem sabe o quer é ser negro numa sociedade como a americana é quem é negro. O discurso é uma catarse emocionante e só ele vale a longa inteiro. “Ponto cego” consegue ser forte e pueril ao mesmo tempo e no meio da caminho vai nos mostrando códigos e signos da violência social silenciosa. Numa palavra? Impactante!
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