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Por Trás dos Seus Olhos

Por | 2018-04-22T21:16:50-03:00 21 de março de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Por Trás dos Seus Olhos (All I See is You) (Drama/Mistério); Elenco: Blake Lively, Jason Clarke; Direção: Marc Forster; Tailândia/USA, 2016. 109 Min.

Blake Lively está revelando ser mais que um rostinho bonito na frente das câmeras. Depois do vazio e sensual “Shallows” a moça traz para o grande público uma excelente interpretação de uma personagem cega que volta a enxergar, dentro de um roteiro intrincado e cheio de subjetividades com uma fotografia sensorial formidável.

Gina (Blake Lively) é uma mulher jovem, casada com James (Jason Clarke) que vive na Tailândia por conta do trabalho do marido. Quando criança sofrera um acidente que a deixou cega. Sendo assim passa o dia sozinha, no escuro, numa vida repetitiva que se reduz a esperar o marido chegar para a ajuda-la a gerir a vida, num quadro de total dependência. Até que surge a oportunidade de um transplante de córnea que dá certo, e Gina passa a ter uma vida visual para além da sensorialidade do tato e da audição. Se deslumbra com todas as possibilidades e começa a mudar, com muita sede de vida. James não consegue acompanhar essa troca de referências de mundo e de atuação nele e  toma suas providências. A história é belíssima pela sua abordagem. Mas, muito principalmente, pelo viés escolhido, o da sensorialidade e intuição – olhos da alma bem mais acurados do que o da percepção fisiológica de mundo -. O que Marc Forster, juntamente com o roteirista Sean Conway, fazem para mostrar as discrepâncias entre essas duas perspectivas é usar a fotografia bastante sensorial de Matthias Koenigswieser quase que como uma personagem na história. Nos remetendo ao estilo quente, forte e dissonante do cineasta Gaspar Noé.

O alemão Marc Forster é conhecido por “Em Busca da Terra do Nunca” (2004) – pelo qual foi indicado ao Globo de Ouro – “A Última Ceia” (2001), “Caçador de Pipas” (2007) e “007 – Quantun Solace” (2008). Em “Por Trás dos Seus Olhos” conta mais que uma história, ele faz o espectador senti-la. Seu mote é dar a sensação de leitura de mundo de um cego e depois trocar esse referencial pelo visual. Mas, sem substituir um pelo outro, acumulando-os dentro de uma história que mexe com sentimentos de posse, adonamento e controle do outro, disfarçado de amor. O que Forster usa para marcar isso é a fotografia poética, turva, confusa e sensorial de Matthias de Koenigswieser que está em seu primeiro longa como diretor de fotografia e que foi câmera de “After de Fall” (2014). O longa foi indicado ao Camerimage 2017, o Oscar da fotografia.

O grande destaque vai para a interpretação de Blake Lively de “A Incrível História de Adaline” (2015) que está soberba numa atuação contida e sensitiva. “All I See is You” (no original) é um filme que surpreende pela sua competência artística em traduzir tanta subjetividade em imagens e vale o quanto pesa. Sensacional!

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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