‘Primavera em Casablanca’ os tentáculos da política nos cotidianos

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‘Primavera em Casablanca’ os tentáculos da política nos cotidianos

Por | 2018-09-23T22:46:59-03:00 29 de julho de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Primavera em Casablanca (Razzia) (Drama); Elenco: Maryam Touzani, Arieh Worthalter, Amine Ennaji, Nezha Tebbaai, Abdelilah, Dounia Binebine; Direção: Nabil Ayouch; França/Marrocos/Bélgica, 2017. 119 Min.

“O que muito se espreme sai por entre os dedos” como diz um velho ditado popular. Ninguém controla nada nem ninguém. Toda repressão cerceia, revolta e termina em convulsão social. Nabil Ayouch, um cineasta franco-marroquino disserta sobre os tentáculos da repressão cultural sob a égide do recrudescimento do islã no Marrocos por três gerações através de cinco histórias. O viés da abordagem é o desejo inato de liberdade do ser humano e vai do cerceamento da língua à liberdade do exercício de sexualidade e de sensualidade; do cerceamento do poder de decisão sobre a própria vida, no âmbito privado, ao exercício do fazer coletivo e político sem dizer uma palavra sobre a Sharia. Mas tudo está ali, no movimento da vida de cada um através de cinco personagens predominantes dentro daquele contexto político.

Salima (Maruam Touzani), Joe (Arieh Worthater), Abdallah (Amine Ennaji), Yto (Nezha Tebbaai), Rakim (Abdelilah Rachid) e Inês (Dounia Binebine) são personagens fictícios de gerações diferentes e realidades diferentes postos no contexto real do recrudescimento da Sharia no Marrocos de 1982 aos movimentos de protestos de 2012. A história esta Imiscuída aos costumes culturais do campo e da cidade, às atitudes de intolerância entre grupos, de homofobia e da discriminação racial e social. O longa versa sobre o quanto decisões políticas influenciam na vida pessoal dos indivíduos que compõem uma sociedade mesmo sorrateira e silenciosamente. O roteiro foi escrito a quatro mãos, Por Ayouch e por Maryam Touzani e é um pool de aspectos em camadas muito bem constituídas que se sobrepõem dentro da história maior com uma sutileza e competência que apetece a quem assiste.

Nabil Ayouch é conhecido por  “Muito Amadas” (2015) um filme que versa sobre a prostituição no mundo árabe e na cultura muçulmana pelo qual levou um Lumière para casa . Não se deixa calar e sabe fazer de seus argumentos, mesmo que duros, algo humano, sutil e belo.  Com “Primavera em Casablanca” Ayouch foi seleção oficial nos festivais de Haifa e Toronto e no de Estambul participou da mostra competitiva Human Rights. Além do roteiro e das soberbas atuações o que chama a atenção é a trilha sonora assinada por Guillaume Poncelet, que é um deleite. Com destaques para as músicas “Moria”, “Esche” e “Abdallah Prie”, além das referências à banda Queen com as músicas mais populares de Freddie Mercurie e que compõem magistralmente o roteiro.

“Primavera em Casablanca” é um achado, um verdadeiro primor. Uma ode ao ser humano, suas errâncias e seu direito de liberdade em todos os sentidos. “primavera em Casablanca” é um filme vivo, inteligente e brilhante politicamente por traçar um painel muito mais abrangente da primavera árabe se situando no território e na cultura marroquina. E com tudo isso o filme consegue ser extremamente sutil. Não é autoexplicativo e não subestima a inteligência do espectador. “Razzia” (no original) é um filme para se ter em casa para se rever quantas vezes der vontade. É um pequeno diamante.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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