Procurando Dory (Finding Dory) (Animação/Aventura /Comédia); Elenco (Versão original e brasileira); Ellen Degeneres/Maíra Góes; Albert Brooks/Julio Chaves; Ed O’neil/Antonio Tabet; Raiden Rolence/Rafael Mezadri; Direção: Andrew Stanton, Angus McLane; USA, 2016. 97 Min.
Com um orçamento de duzentos milhões de dólares, maior do que o de “Operação Big Hero” (2014) – o oscarizado do ano passado – “Procurando Dory” já se pagou quase duas vezes com uma bilheteria, até agora, de quinhentos setenta milhões de dólares no mundo todo. Só no Brasil, a animação arrecadou vinte e quatro milhões de reais e já levou quase dois milhões de espectadores ao cinema em dez dias de estreia. A história pega carona no oscarizado “Procurando Nemo” (2003), mas se impõe com viés bem particular: as deficiências. É nesse contexto marcante que o longa-metragem fala sobre auto-estima, família, amizade e preservação ambiental.
Dory é um peixe cirurgião-patela que junto com o peixe-palhaço Nemo fez grande sucesso em 2003. Com um memória extremamente falha a personagem deixou um ponto de interrogação na cabeça de roteiristas, diretor (Andrew Stanton) e do público. E uma lacuna para ser preenchida com uma história. Mas não qualquer história. E é nesse aspecto que a Pixar acertou mais uma vez. A história que Stanton e os roteirista trouxeram conta a vida de Dory desde peixinho bebê, o seu encontro com Nemo e vai adiante, empreendendo uma saga de procura pelos pais da ‘peixinha’ que sofre de perda de memória recente.
Dory (Ellen Degeneres/Maíra Góes) após atravessar os oceanos a procura de Nemo (Hayden Rolence/Rafael Mezadri) resolve procurar pelos seus pais. Pois, pelos flashes de memória antiga, Dory se lembra de que tem uma família. Pede ajuda a Nemo e Marlin (Albert Brooks/Julio Chaves). Este, mesmo resistente, resolve ajudar. E no meio do caminho encontram Hank (Ed O’Neil/ Antonio Tabet), um polvo (octópode) com sete tentáculos; Destiny (Kaitlin Olson) um tubarão baleia míope; Baley (Ty Burrell) uma baleia branca com habilidades de ecolocalização que não acredita em si, e por fim, atravessando a história toda, várias vezes, o leão marinho Geraldo, que é vesgo. Ou seja, a animação se diferencia com um argumento próprio, inteligente e procedente na educação de crianças (já que o longa tem classificação livre). As diferenças são deficiências que são aceitas e trabalhadas. E não pára por aí, a abordagem também contempla o cultivo da auto-estima, mesmo com as limitações que as deficiências inpõem; trabalha muito bem o egoismo de Hank; a dureza de Marlin e ovaciona a maneira com a qual as pessoas resolvem problemas diferente umas das outras e a maneira de conduzirem suas vidas, deixando claro que não existe fórmula padrão para viver. Tendo a família e a amizade como contexto o longa-metragem aborda a educação ambiental de forma bem objetiva e clara quando apresenta a sujeira no meio ambiente e o Instituto da Vida Marinha com seu lema de resgate, cura e retorno à natureza; quando aborda a questão da vida em cativeiro; e o quando mostra que a natureza não é divertimento: na cena das crianças no aquário, em que, o que é divertimento para elas é o terror para os peixes. Tudo bem didático e voltado para as crianças.
Dentre os aspectos cinematográficos, já se esperava que a qualidade técnica fosse a melhor, que as cores a tecnologia e a produção fossem a altura de “Procurando Nemo”. O que não se esperava é que o roteiro fosse a menina dos olhos da animação. A partir da história de Andrew Stanton de “WALL-E” (2008) outros roteiristas, como Bob Peterson de “Up: Altas Aventuras” (2009), trabalharam na história ampliando o leque de abrangência da diversidade para dentro e fora da água e de qualquer ordem: de espécies a orientação sexual, de forma inteligente e sutil. Não se poderia deixar de citar, também, a trilha sonora de Thomas Newman de “Skyfall” (2012) – quase um campeão de indicações ao Oscar, treze ao total – e as músicas divinais inseridas na obra, como: “Unforgetable” na voz de Sia – imortalizada por Nat King Cole; e “What a Wonderful World” na voz de Louis Armstrong. A versão brasileira conta, ainda, com a voz de Marília Gabriela sendo ela mesma, como locutora do Instituto de Vida Marinha, papel que, na versão original, coube a Sigourney Weaver.
“Finding Dory” (no original) é mais que uma carona no sucesso de “procurando Nemo”, é um painel de heterogeneidades que convivem e que dão certo. É uma lição de vida em relação ao suposto controle e planejamento que achamos que somos capazes de exercer sobre a vida – prestem atenção ao discurso de Dory sobre a descoberta de si mesmo. Que os desenhos animados hoje não são mais como os de antigamente, já sabemos. Mas, hoje isso não se refere somente à tecnologia usada, mas muito principalmente, em relação aos temas, as formas de abordagem e ao alcance – servem para os pequenos e para quem os acompanha….. Tem-se que admitir que a Disney/Pixar acertou de novo. Quem sabe sabe e ponto.
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