Quarteto Fantástico (Fantastic Four). (Ação/Aventura/Ficção Científica); Elenco: Miles Teller, Michael B. Jordan, Kate Mara, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg. E Cathey; Direção: Josh Trank; USA, 2015. 100 Min.
Nota: Contém 1/2 espoiler
O que dizer do “Quarteto Fantástico” de Josh Trank? Em primeiro lugar que foge ao estilo do que vimos nos dois longas, sobre os heróis, de Tim Story, Em segundo lugar, é um longa sombrio e com pouca tatibilidade. A palavra mudança está na chamada publicitária e envolve mais do que a representação da diversidade étnica no elenco principal. Ela está também no arcabouço da história, na quebra do estereótipo de família, no período de vida dos heróis, a juventude; na busca por uma inserção na realidade – a abordagem da crueldade humana, do aspecto político e na relativização do mal. Além de ser um filme, majoritariamente, do gênero ficção científica.
Roteirizado por Simon Kinberg de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido “ (2014) e Jeremy Slater de “Renascido do Inferno” (2014) juntamente com Josh Trank, “Quarteto Fantástico” se detém nas transformações dos quatro fantásticos e no processo de formação do grupo, peca na atração e compensa na profundidade de aspectos filosóficos, mas continua sendo o mais instável dos personagens de HQs até na versão cinematográfica. A primeira foi em 1994, uma versão alemã co-produzida pelos EUA (disponível em plataformas online) – um fiasco total. As outras duas são as mais conhecidas, de Tim Story, de 2005 e “…o sufista prateado” (2007), que tinha o estilo de contar histórias, as cores e a ‘vibe’ dos “Vingadores”, do “Homem de Ferro” e do “Capitão América” no que diz respeito ao humor. Na versão de 2015 a repaginação começa dando um ar de “Smallville” em que a história se dá na juventude do grupo: Dr. Fantástico/Reed Richards (Miles Teller) é um bolsista de Iniciação Científica. A História muda em seu arcabouço conhecido subtraindo a participação de Mulher Invisível/Sue Storm (Kate Mara) de alguns eventos, ausentando Dr. Destino/Victor (Toby Kebbell) e Dr. Fantástico na maior parte do tempo, e dando ênfase aos personagens do Tocha/Johnny Storm (Michael B. Jordan) e A Coisa/Ben Grimm (Jamie Bell) que têm uma visibilidade muito maior, e no embalo, quebra o estereótipo de família quando Sue e John são irmãos adotivos. “Quarteto Fantástico” tem um pé em “Prometheus” (2012) de Ridley Scott em seu tom nefasto e na viagem a outra dimensão, e nos filmes da franquia “X-Men” em relação as teorias científicas.
A fotografia de Matthew Jensen de “Games of Thrones” tem um tom sombrio e a energia reinante é a tristeza pelas transformações, a solidão da clausura e do isolamento promovida pela quarentena de adaptação e o uso para o qual estão sendo treinados: armas de guerra. Na contextualização para a possibilidade de realidade, o primeiro grande inimigo do Quarteto Fantástico somos nós. E aí entra a relativização do mal, proposta na personagem do Dr. Destino – que não quer ser rei na terra nem ter todo o poder do mundo na terra – mas sim defender o seu mundo, de nós. Estaria ele errado, pelo próprio raciocínio usado para contar a história? Foi uma falha de roteiro? Ou foi proposital? São aspectos a serem pensados e que não tem continuidade. E por conta da conexão entre eles e o restante das mudanças e contextualizações do longa, percebe-se que há um ruído e tanto na comunicação, sobram arestas e a conta não fecha.
“Quarteto Fantástico” de Josh Trank de “poder sem Limites” (2012), em relação ao que se espera de um filme de super-heróis da Marvel, na vibe dos “Vingadores”, decepciona. Mas tem aspectos bem interessantes que se perdem no emaranhado de novidades, a desconstrução do mundo bobo dos quadrinhos, que aventa que um planeta inteiro de seres egoístas e medíocres, como nós, aceitariam seres mais poderosos e os ovacionaria, como em “Super-man” – que já questionou essa ovação gratuita em “Homem de Aço” (2013) e vai fazê-lo novamente em 2016. A trilha sonora é outro ponto positivo, é um primor, assinada por dois grandes compositores: Marco Beltrami de “Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas” e Philipe Glass de “As Horas”. E ficamos por aqui em relação aos aspectos positivos mais óbvios.
As mudanças em “Quarteto Fantástico”, vão além de tirar as calças da Coisa. Elas são estruturais: a destruição ‘non sense’ dos quadrinhos no longa de Josh Trank, e/ ou a tentativa suicida de inserir camadas filosófico/político/existências num reboot de super-herois dirigido para adolescentes e nerds de plantão, são o diferencial em relação ao gênero. Mas, tudo isso pode cobrar seu preço. É parece que a maldição do quarteto fantástico paira no ar. Agora é, literalmente, pagar pra ver….ou não.
*Parte deste texto foi concebido como resultados de conversa/debate com o monitor de ensino médio Matheus Meirelles (17), fã do universo cinematográfico dos quadrinhos.
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