‘Que Mal Eu Fiz a Deus? 2’ – a fórmula repetida

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‘Que Mal Eu Fiz a Deus? 2’ – a fórmula repetida

Por | 2021-12-03T13:27:29-03:00 3 de dezembro de 2021|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Que Mal Eu Fiz a Deus? 2 (Qu’Est-ce Qu’on a Tous Fait ou Bon Dieu?) (Drama/Comédia/Família); Elenco: Christian Clavier, Chantal Lauby, Ary Abittan, Medi Sadoun, Frédèric Chau, Noom Diawara, Pascal Nzonzi; Direção: Philippe de Chauveron; França, 2019. 98 Min (classificação etária: 10 anos)

“A França é um paraíso habitado por pessoas que acreditam estar num inferno” (Silvain Tesson)

A família Verneuil está de volta dando continuidade ao roteiro de Guy Laurent, premiado no Lumière de 2015. O cinema como produto tem a tendência de dar continuação àquilo que fez sucesso. Mas, como diz o ditado, um raio não cai no mesmo lugar duas vezes. “Que Mal Eu Fiz a Deus? 2” repete a fórmula genial com pouca coisa a se acrescentar.

O primeiro longa fez sucesso pela abordagem leve e divertida de um argumento bastante polêmico: o preconceito. Mostrando suas idiossincrasias de forma brilhante através de uma família francesa provinciana. Naquele, a família Verneuil recebia genros de etnias diferentes (chinesa e africana) e de valores religiosos e culturais diferentes (judeu e muçulmano). A fórmula deu certo pela sua abordagem sutil e elegante, e as atuações sensacionais de Christian Clavier da série de TV “Napoleão” (2002) e Chantal Lauby de “A Gaiola Dourada” (2013) e suas reações contidas e inusitadas a cada genro apresentado pelas suas filhas, costuradas por um roteiro magistral.

Repetir essa f´´órmula é outra coisa. Agora, os genros estão cansados da Franças e querem ir fazer sua vidas com suas famílias em seus países de origem, salvo o africano. O espaço de inovação que sobrou foi criticar a própria França e seu preconceito estrutural para louvá-la ao final; trazer alfinetadas e deslizes preconceituosos entre os genros a partir de suas diferenças; criticar o engessamentos das relações imposto pelo ‘politicamente correto’ e adicionar a orientação sexual e o talibã afegão ao pacote, que no primeiro longa ficaram de fora.

As atuações estão majestosas, como era de se esperar, o roteiro continua tendo sua primorosidade apreciáveis por conta de sua graça e leveza, mas é apenas uma atualização de status do que vem acontecendo no mundo em termos de recrudescimento no trato das diferenças. Aquele impacto da primeira vez, obviamente, não existe mais e se torna mais um filme francês no circuito.

Mas, nem só de desventuras vive uma narrativa cinematográfica, “Que Mal Eu Fiz a Deus? 2” ainda serve para refletirmos, com muita graça, sobre as questões postas. Não só porque rir é o melhor remédio, mas porque é brincando que se diz muitas verdades. Só o duelo de titãs entre Christian Chantal e Pascal Nzonzi já vale o filme inteiro e está imperdível.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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