Romance Policial

Romance Policial

Por | 2018-06-16T23:52:59-03:00 4 de junho de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Romance Policial (Ação/Drama); Elenco: Daniel  Oliveira, Daniela Ramirez, Alvaro Rudolphy; Direção: Jorge Durán; Brasil/Chile, 2014). 98 Min.

Quarenta e dois anos depois do golpe militar do Chile dado por Augusto Pinochet, Jorge Durán volta a filmar em sua terra natal. E escolheu o deserto do Atacama para falar sobre a falta de inspiração de um escritor e a sua procura por algo novo que movesse as águas da imaginação e rompesse em erupção a força criadora para uma nova obra literária.

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Esta é a coluna vertebral da história de “Romance policial”. Totalmente falado em Espanhol, estrelado por Daniel Oliveira na pele de Antônio, o escritor vazio, e Daniela Ramirez (Florência) por quem se encanta. Antônio é um funcionário público que escreve romances, um belo dia falta-lhe inspiração para sua escrita. Por conta disso, resolve ir ao deserto do Atacama, no Chile, se entregar nas mãos do destino e ver o que acontece, no melhor estilo sem lenço e  sem documento. Lá, testemunha um assassinato, do qual passa a ser seu principal suspeito. Tem seu passaporte confiscado e fica impedido de voltar ao Brasil até que se esclareça o caso. Em meio a tudo isso, resolve, ele mesmo, investigar as ligações e os acontecimentos na cidade de São Pedro. Descobre relações obscuras entre os locais e vive uma aventura romântica e policial a qual lhe rende um belo romance editorial.

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A obra cinematográfica é um filme do gênero suspense, mas com um adendo, sem os clichês típicos do gênero. Mistura romance, filosofia existencial, política – relativo à ditadura chilena – e mistério. Dirigido e roteirizado por Jorge Durán, tem uma narrativa característica de romance policial e  intimista, que se dá toda dentro das lembranças de Antônio, tendo seu ponto final no começo. O restante fica para as fabulações do espectador. Na realidade é  uma história que Antônio conta para si mesmo conosco como testemunhas, logo, ele pára a hora que quiser (e é o que ele faz). O que nos é apresentado  é o processo de organização de pensamento da escrita de seu livro. E essa é a graça do que  fica para a imaginação do leitor/espectador, é uma viagem narrativa sem o chão a que estamos acostumados. Isso de forma alguma compromete o conjunto da obra, ao contrário, ela se estabelece como mais um filme com as características da escrita de um dos maiores roteiristas chilenos, responsáveis por roteiros  marcantes como “Lucio Flávio – O Passageiro da Agonia” (1977), “Pixote – A Lei do Mais Fraco” (1981), ” O beijo da Mulher-aranha” (1984) e  “A cor do seu Destino” (1986). Também trabalhou com cineastas como Tizuca Yamazaki e Murilo Salles.  Como diretor  tem no currículo o premiadíssimo “Proibido Proibir” (2006) e agora o seu quarto filho é “Romance Policial”  e com ele traz as sombras da ditadura chilena como um fantasma longínquo que ainda atua silenciosamente no cotidiano das pessoas.

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Daniel Oliveira de “Cazuza: O Tempo Não Pára” (2004) é a agulha que costura essa produção Brasil/Chile juntamente com a trilha sonora de Fabiano Krieger de “Faroeste Caboclo” (2013) e Lucas Mercier de ” 5x Favela, Agora Por Nós Mesmos” (2013), e a fotografia magistral, que alinhava a secura do Atacama à vida de Antônio e os vulcões ao seu interior adormecido,  de Luiz Abramo de “Não Se Pode Viver Sem Amor” (2010) pelo qual ganhou o Kikito de Ouro do Festival de Gramado. “Romance Policial” foi indicado a melhor filme no Festival de Bogotá e exibido em vários outros festivais, nacionais e internacionais.

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Em suma, o novo longa-metragem de Jorge Durán é um suspense sofisticado com imbricações políticas, metaforizando a existência infrutífera a um dos desertos mais secos do planeta. Uma boa pedida para quem quer ver um filme brasileiro misturados com os cheiros da América Latina, na geografia, na política, na música e no idioma.

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Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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