Run & Jump. (Drama); Elenco: Maxime Peake, Edward MacLiam, Will Forte; Diretora: Steph Green; Irlanda/Alemanha, 2013. 106 Min.
Inserido no cotidiano familiar como “Boyhood- Da Infância à Juventude” e “Homens, Mulheres & Filhos”; “Run & Jump” conta a história de luta, pela unidade familiar, de Vanetia (Maxime Peake). Que após um AVC raro, sofrido pelo marido Conor (Edward MacLiam) o recebe em casa, depois de um período de internação hospitalar, completamente diferente do que sempre fôra. E Vanetia tenta manter a rotina familiar e adaptar-se à nova realidade. Conor passa a ter a idade mental de uma criança, e passa a ser mais uma em casa, além dos filhos, para ela tomar conta. Com um adendo, o paciente volta para casa acompanhado de um pesquisador neurocientista, Ted (Will Forte), que tem por trabalho registrar a melhora, adaptação, ou quais sejam as reações de recuperação de Conor à desconhecida disfunção. A Presença do pesquisador interfere no cotidiano da família, não só por estar lá, mas por desempenhar papéis que seriam do pai e do marido, que cognitivamente se encontra ausente.
Não, não é mais uma historinha triste e enlutada. É uma história singela, composta de realismos admiráveis e alegre, apesar de tudo. A película nos propõe refletir sobre os muros de convenções sociais que são construídos em nosso entorno, e que se chocam com as mais primitivas necessidades humanas, a de se relacionar e a de ser amado. O afeto e a vida são os aspectos abordados no filme de Steph Green. Sem leviandades e com muita dignidade, nos remete à “Teoria de Tudo”, em que os exacerbos das tarefas e responsabilidades, recaem sobre os ombros de um só. E mediante as circunstâncias, em algum momento a natureza fala mais alto.
A atuação de Edward MacLiam é comparável à de René Van’t Hof de “A Montanha Matterhorn” em que o ator interpreta Theo, um autista que é encontrado por um desconhecido que resolve lhe oferecer abrigo e alimento ( uma bela aventura pela seara do afeto). E Will Forte de “Nebraska” está soberbo como um homem das ciências que tem dificuldades de manisfestações mais espontâneas, e que não sabe o que fazer quando se descobre apaixonado. Maxime Peake de “A Teria de Tudo” está divina na pele de uma dona-de-casa, mãe de família, feliz por natureza, que tem que enfrentar a ausência de um marido presente, a reprovação do restante da família à permissão de outro homem estar participando do cotidiano de sua casa, e os olhares e comentários de amigos. É uma personagem que não se deixa quebrar e se vê numa situação de testar a hipocrisia das convenções sociais X natureza. O argumento é comum, mas foi costurado e interpretado de forma brilhante. Até no título, que em tradução livre quer dizer “Correr & Pular”, foi muito bem conduzido como metáfora, na história e na imagetização que arremata a obra cinematográfica alegremente.
E a palavra-chave de “Run & Jump”, é sim, alegria, e isto fica bem claro na trilha sonora que tem músicas efusivas e compostas por artistas locais (irlandeses), se revelando um banho de humor e contentamento com a vida. Apesar do roteiro soturno e de luto, a trilha é a alma de Vanetia trazida à luz. A diretora Steph Green, tem nessa obra cinematográfica seu primeiro longa-metragem. Porém, na categoria de curta-metragem tem uma indicação ao Oscar 2007 por “New Boy” e mais quatorze outras premiações por outros trabalhos. Afeita a produções independentes, Steph usa dessa costumeira liberdade para nos apresentar as paisagens internas de nós mesmos, da mesma maneira que nos apresenta as paisagens da Irlanda
A obra ganhou o prêmio de melhor filme nos festivais Galway film fleadh, na Irlanda e o Valladolid Internacional Film Festival, na Espanha. “Run & Jump” é um filme com uma história próxima de qualquer um de nós e que questiona os engessamentos que as convenções sociais nos obrigam a seguir, e a fuga de nós mesmos, através da necessidade fabricada de aceitação do outro. A metáfora disso é a cena do funeral do sogro….um primor! “Run & Jump” é uma ode à liberdade, ao amor e a catarse, com muita sofisticação.
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