Ruth & Alex ( 5 Flights Up). (Drama); Elenco: Diane Keaton, Morgan Freeman, Sterling Jerins, Cynthia Nixon; Direção: Richard Locraine; USA. 2014. 92 Min.
Depois de uma temporada de onipresença, em que esteve em 6 filmes em 2014, Morgan Freeman está em cartaz com “Ruth & Alex”. Contracenando com Diane Keaton, que interpreta Ruth Carver uma mulher branca que casou-se com um homem negro, quando isso ainda era ilegal, e que de cara para a aposentadoria, resolve vender o apartamento em que vivera por quarenta anos por causa das escadas e da ausência de um elevador.
“Ruth & Alex” mostra um casal feliz, juntos há mais de quarenta anos, com algumas características bastantes importantes: sempre exerceram sua autonomia, sempre decidiram o que é melhor para si, independente do que o contexto dizia. Quando era ilegal a convivência entre etnias diferentes nos EUA eles se casaram – e isso é frisado – quando era difícil viver de arte viveram. E com esse raciocínio o roteirista Charlie Peters e o diretor Richard Locraine desenvolvem a história. A costuram com noticiários de TV que versam o tempo todo sobre violência: atentados a bomba, terrorismo, etc… traçando um painel da manipulação de massa exercida pela mídia, que influencia no mercado imobiliário, no fomento do medo, na criação de necessidades, na decisão das pessoas e no usufruto da liberdade. A metáfora da idade, relativo a cansaço, fica por conta da cadelinha Dorothy e a da manutenção da liberdade de pensamento, da não fossilização, fica por conta das cenas de Alex (Morgan Freeman) com a menina Zoe (Sterling Jerins).
Tecnicamente o filme funciona muito bem. Richard Locraine, conhecido pela série de TV “Band of Brothers”, pela qual ganhou um Primetime Emmy. Juntamente com o roteirista Charlie Peters de “Três Solteirões e Uma Pequena Dama” (1990) basearam-se no livro “Heroic Measures” de Jill Ciment para realizar o filme e a tessitura do argumento com o catalisador – explico: discutir a liberdade de ação e a potencialidade de escolher o que é melhor para si sozinho, sem a influência dos outros, como o genuíno exercício de poder sobre si mesmo, usando o argumento da venda do apartamento – que ficou simplesmente demais. A televisão é um personagem em “Ruth & Alex” é ela quem faz o arremate final ao que o filme quer dizer. Com uma trilha sonora minimalista de David Newman que conta com composições de Morgan Freeman e uma de Diane Keaton e uma fotografia realista e paradoxal com momentos de luz plena e escuridão parcial, “Ruth & Alex” junta dois grandes nomes do cinema americano. Diane Keaton a Annie Hall de “Noivo neurótico e Noiva Nervosa” (1977) pelo qual ganhou o Oscar, e a inesquecível Kay Adams de “O Poderoso Chefão” (1972) que ousou desafiar o papel designado para a mulher no mundo da máfia. E Morgan Freeman, a máquina de atuar, oscarizado por “Menina de Ouro” (2004) e que em 2014 foi de “Winter, o Golfinho 2” a “Uma aventura Lego”, que tem 3 filmes prontos em 2015 , além de 2 série de TV e outros 5 para 2016 em fase de pre e pos-produção. Ufa!
Em suma, “Ruth & Alex” não é um filme água com açúcar, é um filme político rodado entre a cozinha e a sala de um casal de idosos aposentados, E que vaticina que ninguém pode dizer a ninguém o que é melhor para o outro, cada um tem e deve decidir por si mesmo. E extrapola o território da idade, serve para todos. É uma ótima pedida para pensar autonomia e poder de decisão.
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