Blue Jasmine (Comédia/drama). Elenco: Cate Blanchett, Sally Hawkins, Alec Baldwin, Peter Sarsgaard; Diretor: Woody Allen. USA, 2013. 98Min.
Junte um olhar ávido e curioso com antenas potentes e um cérebro fervilhante e você tem Woody Allen. Um gênio dos questionamentos existenciais, uma alma paciente e perscrutativa da essência humana. Para ser breve, que o digam Noivo neurótico, noiva nervosa (Annie Hall,1977), discutindo a relação e Desconstruindo Harry (1997), sobre auto-sabotagem; agora é a vez de abordar a bancarrota.
Blue Jasmine é sobre o infortúnio, sobre mazelas e tristezas, inferno astral e tudo o que pode abater a alma humana em doses cavalares. Se em Match point (2005) o assunto era a sorte e o quanto algumas pessoas não sofrem as consequências dos seus atos, numa sensação de pura injustiça do destino, em Blue Jasmine o assunto é o azar e o quanto alguém pode arcar tim-tim por tim-tim com as consequências de cada equívoco cometido.
A história é sobre uma órfã de pai e mãe, adotada que se torna socialyte e que após denunciar as operações financeiras escusas do marido ao FBI, como forma de vingança ao descobrir suas traições conjugais, o leva ao suicídio, perde o afeto de seu enteado e se vê na falência sem ter a quem recorrer, a não ser, à irmã adotiva, que vive uma outra realidade social.
Woody Allen não economizou reflexões, perspectivas e circunstâncias. O nicho é o feminino, a sensibilidade, a sensação de desproteção, o assédio sexual, a impotência diante das situações que a vida apresenta e a dor. Em Blue Jasmine, Woody abdica do final feliz. Tudo bastante realista e humano.
Os movimentos da narrativa são de ida e volta, através de ganchos, falas, lembranças. remetências através de objetos que tecem as explicações sobre os ranços entre as personagens. A música….o Jazz, mas o veio condutor nessa seara é Blue Moon (Richard Rodges and Lorenz Hart , 1934) que versa sobre solidão e reencontro consigo mesmo e é inspirado num fenômeno natural raro de duas luas iguais no mesmo mês (ciclo).
Cineasta de alta produtividade fazendo, praticamente, um filme por ano desde 1966 com mais de quarenta e cinco longas metragens no currículo. Vencedor de três Oscares : em 1978 melhor roteiro escrito para tela ( Annie Hall,1977); em 1987, idem por (Hannah and her sisters, 1986) e em 2012, melhor roteiro original (Midnight in Paris, 2011) e quinze indicações ao Oscar por roteiro e direção. Empreendedor do cinema mambembe de luxo. Match point (Londres); Midnight in Paris ( França); To Rome with Love (Itália); Vicki Cristina Barcelona (Espanha), dentre outras cidades americanas como: New York, Los Angeles e mais uma vez San Francisco é o cenário, com sua baia peculiar e sua paisagem arbórea. As tomadas são em sua maioria em closes, coloridas e vivazes para contrastar com a tristeza e depressão de Jasmine. Cate Blanchette apresenta uma performance esplendorosa.
Um filme que é um divã de mão dupla. Ficamos nós de analistas, imbricando as nossas questões com as da personagem, em alguns momentos exercitando a empatia, em outros repudiando por completo. É esse exercício que nos propõe Woody, famoso por suas reflexões cotidianas pormenorizadas, que vão e vêm levantando as mesmas questões por perspectivas diferentes. Talvez, não seja a sua melhor performance, mas é de se admirar o fôlego desse cineasta de setenta e oito anos e que insiste em nos brindar com saculejos reflexivos. Se faltou alguma coisa? sim, comédia, a película é tudo, menos comédia.
Blue Jasmine é para o espectador que gosta de refletir sobre existencialismo, conhece e ama Woody Allen, independente do assunto que ele aborde, porque para os desavisados é barra pesada.
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