Sin City: A dama fatal (Sin City: A dame to kill for). (Crime/Thriller); Elenco: Mickey Rourke, Jessica Alba, Josh Brolin; Diretor: Frank Miller, Robert Rodriguez; USA/Cyprus, 2014. 102 Min.
Nancy Callaghan (Jessica Alba) está de volta. Dessa vez para realizar a sua vingança após ter sido raptada aos onze anos de idade, e juntamente com ela outras duas mulheres de peso, Gail (Rosario Dawson) e Ava (Eva Green), três mulheres com realidades diferentes que decidem fazer justiça com as próprias mãos num mundo machista, território de foras da lei, de homens violentos, bêbados e mulheres malévolas, usurpadoras e exploradas. Um antro oficial do submundo e de tudo o que nele pode existir de deplorável. Seria trágico se não fossem histórias de HQs adaptadas para o cinema e que vem fazendo sucesso desde de sua primeira empreitada em 2005 intitulada “Sin city” e dando continuação a história “Sin City2 – A dama fatal” é o celeiro de toda essa riqueza artística e contexto.
Baseados nos quadrinhos de Frank Miller o longa conta três histórias independentes. Uma delas “Just another saturday night” tirados da coleção de quadrinhos (Brooze, broads & bullets) e outras duas escritas especialmente para o filme por Frank (“The long bad night” e “Nancy last dance”) num estilo neo-noir antológico de crime americano. O diferencial de “Sin City – a dame to kill for” (no original) é ser fiel a estrutura imagética do quadrinho. Desde o primeiro longa, a obra é totalmente digitalizada, filmada em cores e depois convertido para preto e branco deixando apenas alguns detalhes como cabelos, unhas, olhos, roupas e sangue em cores (um primor). Neste, a novidade é que além de tudo isso, está em exibição na modalidade 3D. Se no primeiro as tomadas de quadrinhos eram o grande diferencial, agora o espectador é inserido na história.
O filme é uma obra de arte. É a criação de um universo duro e cruel até onde a imaginação pode levar e cheio de humor negro. Não são somente histórias, é criação de uma mitologia particular com personagens que têm uma saga, uma cidade que tem vida própria e contexto. Fala sobre misoginia, o poder das mulheres e a sexualidade à toda prova. Filosofa de forma grotesca sobre o amor dos brutos, os momentos de sofrimento e ternura como se fossem um produto alheio a ser consumido e que os tais só recebem a rebarba, o que sobra é a solidão, que é a companheira da vingança. A narrativa é típica dos quadrinhos e dá o tom de gibi, parecido com “cripta” da década de 70 em preto e branco, muito sangue, horror e sensualidade – excetuando os monstros – e “Dick Tracy. As personagens parecem paridas exclusivamente para a saga, principalmente Marv (Mickey Rourke) o matador. Ainda tem um desfile de nomes do cinema como Ray Liotta (Joey), Bruce Willis (Hartigan) o tira honesto morto no primeira parte; Joseph Gordon- Levitt (Johnny); Josh Browlin (Dwight); Powers Booth (Senador Roark) e a participação especial de Lady Gaga.
Os Takes são espetaculares e tem angulações inusitadas. A fotografia é estupenda e faz o espectador sentir-se um leitor de um gibi em movimento, potencializando o quadrinho. A idéia de fazer os dois longas foi do diretor Roberto Rodriguez de “El Mariachi” (1992) que, fanático por quadrinhos, não deu sossego a Frank Miller até convencê-lo a fazer o “Sin City”, que foi ovacionado com cinco prêmios e mais de uma dezena de indicações. Para a versão 2 contou com a ajuda do às da maquiagem Greg Nicotero de “Walking Dead”, com alta tecnologia e, como se não bastasse, Roberto Rodriguez ainda assina a trilha sonora junto com Carl Thiel que, para fechar teve a participação especial de Steven Tyler do Aerosmith. A trilha se caracteriza por ser estriônica, ritmada, compassada, uma mistura de jazz, blues e rock de deixar hipnotizado. E essa nova linguagem gráfica ainda serviu de inspiração para outras produções de filmes saídos de quadrinhos como “The Spirit” (2008) inspirado numa tira de jornal escrita por Will Eisner.
Para resumir, é uma obra que mistura duas linguagens e é uma verdadeira obra de arte e, quiçá, de reflexão sobre o papel do submundo no cotidiano. Altamente sexualizado apresenta o armistício feminino, a patologia, a vingança, o prazer exponencial, o exercício de poder espúrio, o do dinheiro, o das armas e o da manipulação do outro, em forma de brincadeira e entretenimento. Genial!
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