Soundtrack (Drama); Elenco: Selton Mello, Ralph Ineson, Seu Jorge, Thomas Chaanhing. Lukas Loughan; Direção: Bernardo Dutra, Manitou Felipe; Brasil, 2014. 112 Min.
Um filme brasileiro com título original em inglês e versado no mesmo idioma nos diz que os efeitos da globalização chegaram para valer, pois o fato proporciona maiores oportunidades de mercado. Polêmicas à parte o filme foi produzido pela 300ml uma produtora que vem se estabelecendo no mercado com nomes da propaganda. O roteiro do longa fala sobre o que somos capazes de fazer para eternizarmos nossas obras, a velha questão do legado, seja ele científico ou artístico. E ainda passeia de maneira bem sutil sobre as questões relativas ao embate entre ciência e religião, no discurso.
Um fotógrafo, Chris ( Selton Mello) recebe autorização para visitar uma estação de pesquisas nas geleiras para fazer criações artísticas para sua próxima exposição. Lá encontra os cientístas: Cao ( Seu Jorge) um botânico brasileiro; Mark (Ralph Ineson) um inglês que pesquisa o aquecimento global; Rafnar (Lukas Loughran) um pesquisador dinamarquês e Huang (Thomas Chaanhing) um biólogo chinês. Essa mistura de culturas, de ciências de áreas diferentes, de diferentes formas de ver o mundo vai encontrar uma intersecção: a música. A ciência a arte e a religião naquela imensidão branca é o pano de fundo de movimento de pensamento naquele imenso deserto gelado.
O longa metragem trabalha com pontos de vista, cuidados ao semelhante, a importância do outro nas relações humanas, a administração da vida pessoal, dos anseios, das ambições profissionais com a vertente de legado, daquilo que queremos deixar para o mundo com a nossa cara e com a nossa digital. A abordagem é aberta sem conduções ou induções. Ou seja, deixa o espectador livre para fazer suas ilações. O veio condutor são os discursos e seus silêncios e, em meio a isso, também entra a discussão sobre como vemos o cosmos, ou a energia que nos orienta, ou deus, como se quiser chamar. O filme tem uma pegada inteligente.
Bernardo Dutra e Manitou Felipe em sua primeira experiência com longa-metragem de ficção como diretores, trabalharam numa obra existencialista minimalista que usa os sentidos e a percepçãodo outro como ponte para tudo. O nada do ambiente exterior antagoniza com o universo diverso e complexo do interior do homem (humanidade), com o tanto de questões, potencialidades e ‘quereres’ do indivíduos se esbarrando,m se digladiando e se harmonizando. A pegada é altamente subjetiva.
“Soundtrack” só peca no que temos de veia verde-amarela em relação a filmes nacionais – o idioma – e não ser chamado de “Trilha Sonora” no original. O que de certa forma é ate um certo engessamento egoísta e meio tosco, mas é um grito bobo de dentro de nós de vermos filmes com a nossa bandeira falado em nossa língua. No mais o filme é inteligente, sutil e com cara de produção canadense. Trabalha magistralmente com o som. E nesse aspecto, nos remete aos filmes “O Som ao Redor” (2012) e “Redemoinho” (2016) em que o som é quase um personagem na história. Para quem gosta do estilo é uma boa pedida.
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