Steve Jobs (Biografia/Drama); Elenco: Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen; Direção: Danny Boyle; USA/Reino Unido, 2015. 122 Min.
A mediocridade e a excelência sempre viveram em guerra. E a história de vida do às da technologia dos anos 90, Steve Jobs, habitou este espaço durante toda a sua vida. Desde tenra idade Jobs lutou contra o arcabouço fossilizado de pensamento de uma visão ocidental de mundo que tem como centro o próprio umbigo do indivíduo e iça às raias da perfeição seus defeitos e limitações. Na versão do diretor Danny Boyle o combate à esta forma de pensamento se dá através de discursos e diálogos que acontecem nos bastidores de apresentações de Jobs. O longa não se propõe a contar a história linear de sua vida. Ele parte do pressuposto que nós já a conhecemos. Talvez aí esteja a questão dissonante da obra, mais dissonante ainda do que o próprio Jobs em relação a interatividade social, e se foi uma metáfora, possivelmente, não foi bem sucedida.
Em “Steve Jobs”, o gênio e magnata da tecnologia tem sua vida pessoal, profissional, sua maneira de pensar e de ver o mundo, sua dissonância em relação às pessoas e seus conflitos internos atravessados e expostos através de diálogos. Num vai e vem de lembranças de situações que, para sua vida e carreira, foram marcantes e decisivas. Sempre no mesmo ambiente, nos bastidores das apresentações de produtos tecnológicos, um na década de 80 e outro na década de 90. Os personagens são apresentados por feeling, percebidos dentro dos diálogos e reconhecidos por quem já conhece a história. Suas questões com a orfandade, a negação de paternidade de Lisa Brenan (Makenzie Moss/Ripley Sobo/Perla Haney-Jardine), a forma diferente de ver aspectos comuns do cotidiano, suas dificuldades de flexibilização e o matematicismo com o qual via as relações humanas, estão muito bem desenhados.
O roteirista Aaron Sorkin de “A Rede Social” (2010) baseou-se livro homônimo de Walter Isaacson, que também escreveu a biografia de Henry Kissinger, para fazer do filme uma radiografia da personalidade de Jobs a partir de suas ideias. Por conta disso é extremamente subjetivo, rápido, sem apresentação devida dos personagens e de seus papeis e importância na vida de Jobs, como Steve Wozniak (Seth Rogen) e John Scully (Jeff Daniels). Em “Jobs” (2013) de Joshua Michael Stern, estrelado por Ashton Kutcher a jornada de conquistas de Jobs é que era o fio condutor do filme. No longa de Danny Boyle de “127 horas” (2010) ele faz o contrário, a jornada é um detalhe, o que importa é o cara e suas ideias e com isso foca no público que conhece sua biografia, pois são os únicos que conseguem aproveitar o que é dito por Jobs (Michael Fassbender) e localizar em que tempo é a referência dessa jornada de vida.
Quanto a Michael Fassbender, como sempre genial, mas seu trabalho em “Macbeth: Ambição e Guerra” é infinitamente melhor. Obviamente o espaço de atuação que um personagem de Shakespeare oferece não se compara ao de nenhum gênio contemporâneo, mas o papel que merecia a indicação os Oscar de melhor ator nesta temporada não era o de Steve Jobs. Kate Winslet de “O Leitor” (2008) como a assistente Joanna Hoffman fez a ponte entre o mundo de Jobs e o mundo real brilhantemente, para uma obra que trabalha com diálogos. Mas, o destaque vai para a homenagem silenciosa do compositor Daniel Pemberton de “O Agente da Uncle” (2015) inserindo quatro músicas do artista predileto de Jobs, Bob Dylan, na trilha sonora.
No conjunto da obra, “Steve Jobs” é mais um longa-metragem comum e, possivelmente, mais uma cinebiografia esquecível. Uma pena!
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