Tim Maia (Drama/Biografia/Musica); Elenco: Robson Nunes, Babu Santana, Cauã Reymond, Alinne Moraes; Direção: Mauro Lima. Brasil, 2014. 140 Min.
“Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Essa é uma frase conhecida que poderia ser o subtítulo do filme “Tim Maia – não há nada igual”. A cinebiografia do cantor dos ritmos Funk e Soul da música brasileira das décadas de setenta a noventa, e dono de um vozerio do tamanho do mundo. Um nome polêmico, e ao mesmo tempo, inovador e genial do mundo da música. É, os gênios sofrem e não têm letreiro na testa, nem endereço certo pra nascer e muito menos etnia. São simplesmente jogados no mundo com seu talento espantoso para usá-los e desenvolvê-los no meio dos pobres mortais, carentes de discernimento e de condição para recebê-los.
“Tim Maia” é uma adaptação do livro do jornalista Nelson Motta “Vale Tudo – o som e fúria de Tim”, que abarca os momentos pouco conhecidos da vida do cantor. A adolescência na Tijuca, a temporada vivida em New York, a influência do movimento negro e da música negra norte-americana na vida do cantor, a temporada em Londres e sua passagem pelo grupo religioso “Cultura Racional”. Contou, também, com uma pesquisa extensa, bibliográfica, documental e de campo. A bibliográfica é da época da escrita do livro do Nelson, que foi adquirida pela equipe de produção do filme. A documental contou com fotografias cedidas pela família para a composição das caracterizações e a campal contou com depoimentos de pessoas que conheciam Tim Maia e fãs que o acompanharam durante sua carreira.
Estrelado, na fase de juventude, por Robson Nunes, e na fase adulta, por Babu Santana,a obra mostra a radiografia da alma do cantor e sua grande necessidade de ser amado. Quem assina o roteiro é a escritora Antônia Pellegrino. A direção ficou por conta de Mauro Lima, que também é músico, e conhecido pelo premiado “Meu nome não é Johnny” e “Reis e Ratos”. Experiente em cinebiografias e profundo conhecedor das músicas dos anos setenta e oitenta, compôs a trilha sonora original, para além da músicas do Tim constantes na obra. A fotografia nos brinda com um aquecimento de cor à medida que os acontecimentos se encadeiam, a vida começa a fluir e Tim amadurece. Inicia-se em preto e branco na infância, vai adquirindo tons pasteis durante a juventude, e cores fortes, brilhantes e vivas na maturidade. As cenas dos ensaios e shows foram realizados com atuações de atores músicos, para dar mais realidade aos movimentos. Mas o destaque fica mesmo com a caracterização de figurino e maquiagem da fase adulta da vida de Tim, com o ator Babu Santana. Irretocável, um primor. E ainda tem o desfile de celebridades que passaram pela vida do cantor como Carlos Imperial (Luis Lobianco), Roberto Carlos (George Sauma), Erasmo Carlos (Tito Navelle) Rita Lee (Renata Guido) e Nara Leão (Mallu).
Dentre as biografias musicais recentes algumas diferenças básicas merecem destaque. Em “Dominguinhos” a narrativa é em primeira pessoa; Em “olho nu” (a de Ney Matogrosso) há uma seleção de episódios de engrandecimento; Em “Raul – o início, o fim e o meio” o recorte é de documentário. Em “Tim Maia”, o produtor Rodrigo Teixeira, de “O cheiro do ralo” (2006) optou pela biografia romanceada com a narração de um amigo, Fábio Stella (Cauã Reymond), autor do livro “Até que parece que foi sonho – meus trinta anos de trabalho com Tim Maia (2007) (livro esse que consta na pesquisa de Nelson Motta) e assume a síntese de personagens para contar os cinquenta e oito anos de Tim. Síntese dos amigos na personagem do Cauã Reymond, o narrador; síntese das mulheres de Tim na personagem de Janaína (Alinne Moraes), no mesmo estilo de “Ray” – a cinebiografia de Ray Charles. E “Tim Maia” não tapa o sol com a peneira, não aplaude a hipocrisia, bem ao estilo do biografado. Já começa dizendo a que veio e foca na personalidade forte do cantor e nos altos de baixos de sua vida. Desnuda Tim Maia em sua essência apresentando a cena mais tocante do filme todo (a meu ver) a do pedido “me prende, por favor” aos policiais…Estupendo!!!
O filme “Tim Maia – não há nada igual” é um recorte nu e cru da alma de Tim. Um patchwork das histórias ouvidas e pesquisadas sobre a vida do artista. Uma produção brasileira que trabalha com pesquisa fazendo ficção sem a menor pretensão de se tornar documento de nada, e que acaba sendo uma senhora homenagem.
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