Tinha Que Ser Ele? (Why Him?) (Comédia); Elenco: Zoey Deutch, James Franco, Bryan Cranston. Megan Mullaly, Griffin Gluck; Diretor: John Hamburg; USA/Cambodia, 2016. 111 Min.
Nem só de filme cabeça vive o espectador. O longa produzido e estrelado por James Franco e dirigido por John Hamburg é uma comédia romântica de desconstrução de costumes, de rearranjo comportamental e de contextualização com os novos tempos através da apresentação de cotidianos de duas gerações. Lembra ” O Pai da Noiva” com Steve Martin, mas é mais esculachado, se propõe a chocar e a ir de um extremo a outro para mostrar as diferenças. Mas também não se faz de rogado e mostra as interseções entre as duas gerações e, é aí que entra a trilha sonora com uma tirada espetacular. “Tinha Que Ser Ele?” é uma dança geracional bonita de se ver com classificação etária para 14 anos.
Laird (James Franco) é bilionário do Vale do Silicone, cujo negócios são virtuais. Livre, sem rédeas comportamentais ou que o conecte com as engrenagens dessa sociedade manipuladora e hipócrita, dado à palavrões e errâncias, Laird é tido como indisciplinado pela geração anterior e gênio pela atual. Stephanie (Zoey Deutch) é uma menina que ainda não terminou a faculdade e se encanta com Laird. Vai morar com ele, mas a família ainda não sabe, mais especificamente, o pai Ned (Bryan Cranston). Numa ocasião especial ela decide apresentar o namorado. Então, a confusão está armada. Com problemas no negócios da família e vendo um futuro genro bem sucedido o embate é de titãs. Mas, é aí que mora a menina dos olhos do enredo que, numa dissertação comportamental sobre as diferentes perspectivas dessas gerações e a disposição do mundo atual com suas exigências de habilidades e competências faz uma costura muito bem feita sobre as diferenças e conexões entre as suas gerações. O desenho da história se dá por analogias mostrando a liberdade que a geração anterior não usufrui por travas da engrenagem social em que estão inseridos; a liberdade de pensamento e de exercício de vida que a geração atual pode dispor, e a metáfora para isso é o palavrão que entra como caracterizador de personalidade daquele que é espontâneo, expansivo e que admitamos ou não conecta as pessoas. E ainda, versa sobre o que as duas gerações têm em comum. E aqui entra Theodore Shapiro com sua trilha sonora caracterizadora dos dois nichos e a conexão entre elas, que é feita por ninguém menos que o grupo de rock ‘Kiss’ com direito a participação especial de Gene Simmons e Paul Stanley. Um show!
E ninguém melhor que James Franco para fazer esse personagem afoito e arrojado em relação à quebra de paradigmas. Um ator engajado nas questões das minorias, principalmente, relativo à sexualidade, e com conhecimento de causa, não por modismo e com discursos vazios. Em 2013, James Franco produziu e dirigiu o filme “Interior. Leather Bar.” que se propunha exibir os 40 minutos cortados do filme “Parceiros da Noite” de William Friedkin. Ali, em uma conversa com o ator principal Val Lauren, Franco diz que não entende por que o cinema mostra violência sexual (estupro), violência doméstica, tiros, agressões físicas mas não mostra o sexo como ele é, não naturaliza o sexo – que é natural – como o faz com a violência. Um nu frontal no cinema é um acinte e gera polêmica. Em “Tinha Que Ser Ele?” o que promove o choque é o palavrão e não sem razão de ser. A escolha por James Franco foi acertada pela naturalidade com a qual ele consegue interpretar a personagem.
Em suma, “Tinha Que Ser Ele?” é um filme de televisão mas não para sessão da tarde tendo em vista a classificação indicativa subir para 14 anos devidos as palavras de baixo calão e as insinuações sexuais. O longa pede um certo despojamento de preconceitos por parte do espectador e fala alto sobre a questão de uma geração passar o bastão para a outra naqueles âmbitos em que já não dão conta do recado. O filme vale o ingresso, principalmente para os fãs de James Franco. Não é uma obra-prima mas vale o quanto pesa.
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