Toni Erdmann (Comédia/Drama); Elenco: Sandra Hüller, Peter Simonischeck; Direção: Maren Ade; Alemanha/Áustria, 2016. 182 Min.
Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, “Toni Erdmann” é o representante da Alemanha na maior festa do cinema mundial. Com uma história simples: a busca de atenção de uma filha workaholic por um pai professor aposentado, a narrativa de Maren Ade emociona pela singeleza e promove um clima de ingenuidade e inocência próprios da infância numa conexão linda de um pai com sua filha, mesmo com cenas adultas. Esses atravessamentos de emoções sem infantilizar o contexto é a maestria do roteiro e o forte da direção de Maren na regência dos atores, que dão um show de atuação.
Inês (Sandra Hüller) é uma executiva de sucesso que está sempre ocupada e viajando. Não tem tempo para estar com a familia e não sai do telefone. O Pai Winfred (Peter Simonischeck), um professor aposentado para lá de criativo, decide conseguir a atenção da filha se travestindo do alter-ego Toni Erdmann. Sob disfarce com uma peruca, uma dentadura postiça e muita presença de espírito lá vai o pai tentar fazer parte da vida da filha. A pegada do roteiro é magnífica quando insere tiradas que são típicas da infância, de brincadeiras de pai e filha num contexto sério de relações sociais e de trabalho da vida adulta. O longa-metragem é terno ao mesmo tempo em que nos mostra o quanto nós perdemos do humano na seara do afeto em nossas relações. O quanto estamos fechados e tratando-nos e atuando como autômatos. O quanto a necessidade de nos afirmarmo-nos financeiramente e de termos sucesso acima de tudo, tem tirado e negado as nossa característica principal como humanos – a da falibilidade, a da imperfeição – e o quanto negar isso tem nos feito infelizes. O longa relativiza, também, o conceito de sucesso e discute o conceito de felicidade inserindo a variante do tempo como algo extremamente importante nas relações humanas. E tudo isso debaixo de largas e gostosas gargalhadas.
A Diretora Maren Ade, co-produtora da trilogia “As Mil e Uma Noites” de Miguel Gomes ( O inquieto, O desolado e O Encantado) e diretora de “Todos os Outros” (2009) consegue na direção e roteiro de “Toni Erdmann” mais do que chegar ao Oscar com tema acalantador, consegue imagetizar necessidades de afeto. Maren Ade através das atuações de Sandra Hüller de “Requiem” (2006), mostrar a lacuna não preenchida na vida do ser humano que o afeto deixa quando não é exercitado. E isso é brilhante! A grande cena do longa, dirigida magistralmente, é aquela em que Inês é constrangida a cantar “Greatest Love of All” de Witney Houston. Que é ao mesmo tempo hilária, emocionante e sintetiza esse sufocamento de afeto de forma genial. O grande destaque vai para Peter Simonischeck fazendo o alter-ego Toni Erdmann, desconcertante e terno, uma sumidade. Em “Toni Erdmann” o forte são o roteiro e as atuações.
Por conta disso a chuva de prêmios não podia faltar. Os de melhor filme estrangeiro vieram das associações de críticos americanas (Atlanta, Broadcast, Ohio, Denver, New York, Carolina do Norte), incluindo a Associação Nacional de Críticos da América e as internacionais como a de Londres, Noruega, Toronto, Vancouver e por aí vai. abocanhou também a Palma de Ouro da Associação de Cinéfilos em Cannes – O ICS Cannes – o prêmio Lux para Maren Ade e o prêmio da audiência e de melhor filme europeu no Festival de Sevilla. Currículo para dar Alemanha o Oscar de melhor filme estrangeiro já tem, agora é torcer, pois os concorrentes são fortes.
E por falar nisso, a Alemanha tem se superado em relação às abordagens humanistas e questionadoras de si mesmo, de sua História – Vide “13 Minutos”(2016) de Olivier Hirschbiegel – e mais, em sobrevoos e mergulhos poderosos na seara do afeto. E “Toni Erdmann” é um desses exemplos. Hoje, é um filme imprescindível para se pensar não somente as relações de família, como as relações interpessoais num contexto de sucesso a qualquer preço que nos abriga a que sejamos tratores passando por cima uns dos outros. O filme vale a pena ser conferido e foi muito bem indicado a essa vitrine mundial chamada Oscar, se vai ganhar é outra história, mas que merece, lá isso merece.
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