Trago Comigo

Trago Comigo

Por | 2018-06-17T00:28:42-03:00 29 de junho de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Trago Comigo (Drama); Elenco: Carlos Alberto Riccelli, Georgina Castro, Felipe Rocha, Julio Machado, Emilio di Biasi, Pedro Lemos, Selma Egrei, Maria Helena Chira, Paula Breta e Gustavo Brandão; Direção: Tatá Amaral; Brasil, 2016. 86 Min.

Em comemoração aos trinta anos de carreira da diretora e ativista política Tatá Amaral de “Um Céu de Estrelas” (1997) entrou em cartaz o longa-metragem”Trago Comigo”. A história fala sobre as sequelas da ditadura militar brasileira na vida daqueles que militaram na luta armada. E os recursos para guiar essa narrativa são uma montagem de peça teatral e depoimentos reais. O filme se propõe a fazer uma atualização dos códigos e significações daquele contexto para as novas gerações, e do que foi a repressão naquela época da História do Brasil. Baseado na série de TV homônima exibida pela TV Cultura em 2009, o longa traz Carlos Alberto Riccelli como ator principal na representação do esquecimento da sociedade brasileira sobre os acontecimentos daquele período de nossa História. Enfim, um fomento à  memória  histórica e pessoal abordado didaticamente.

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Telmo (Carlos Alberto Riccelli) é um diretor de teatro que, convidado para dar uma entrevista sobre o período da ditadura militar, se dá conta que esqueceu. Se dá conta de que não tem memória de sua época de clandestinidade e decide encenar uma peça de teatro em que, passo a passo vai voltando no tempo e remexendo no seu inconsciente. A peça teatral funciona como um artifício terapêutico que busca lembra-lo de sua própria história e da História de seu país. Enquanto esse processo se dá, a necessidade de explicar para essa nova geração de atores o que significava cada ação, qual era o contexto e seus códigos e criação de sentidos (que hoje são outros), fica evidente. Logo, “Trago Comigo” é uma viagem de produção de sentido e de contextualização política.

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Um dos aspectos a serem pensados, expostos na obra, é a discussão sobre fatos poucos conhecidos sobre a ditadura através de depoimentos reais. Como o da ex-guerrilheira Criméia Alice Schmidt de Almeida, o do jornalista Ivan Seixas (membro da Comissão de Familiares Mortos e Desaparecidos Políticos), e a família Teles, autores da ação judicial que  reconheceu oficialmente o chefe do DOI-CODI, o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra como torturador pelo Supremo Tribunal de Justiça. Com o pé no chão e tocando na ferida sem dó nem piedade, a diretora Tatá Amaral e sua equipe são cuidadosos quanto a citação de nomes de torturadores, pelos depoentes, que não tenham sido julgados nem condenados por tal crime. Até porque, no Brasil, ao contrário da Argentina e do Chile, os crimes de tortura nunca foram punidos e seus praticantes ainda foram beneficiados pela lei da Anistia, o que fomentou o esquecimento. O longa-metragem tem a mesma linha de retorno ao passado com vistas a expurgação de dor de “Orestes” de Rodrigo Siqueira e faz pensar.

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Pela costura bem feita entre dor,  arte e política o filme abocanhou os prêmios de melhor filme pelo júri popular do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo e no Festival Internacional de Cine y Derechos Humanos de Sucre, na Bolívia. Vindo num momento político mais que apropriado, quando alguns cidadãos pedem o retorno da ditadura militar em passeatas de protestos “Trago Comigo” nos mostra do que é capaz o ser humano e o quão profundas foram as sequelas deixadas por aquele período sombrio da História do Brasil. Além de homenagear o processo teatral e fazer referência a “Jogo de Cena” de Eduardo Coutinho”. É, a temporada 2016 do cinema nacional está bombando.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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