Trama Fantasma (Phanton Thread) (Drama/Romance); Elenco: Vicky Krieps, Daniel Day-Lewis, Lesley Manville; Direção: Paul Thomas Anderson; USA, 2017. 130 Min.
O que é uma história? A forma com a qual é contada. E se tem alguém que é bom nisso é Paul Thomas Anderson (PTA). Seu último trabalho para a telona, “Vício Inerente” é um labirinto de aspectos para contar a história de um indivíduo comum e seu cotidiano dentro do contexto de uma época. Dessa vez PTA conta uma história de amor, cujo grande feito é prender a atenção do espectador minuto a minuto como se fosse um suspense, o que não deixa de ser uma metáfora inteligente para toda história de amor: a apreensão pelo que vem depois e pelo que significa. Com isso, ele apresenta todo o processo de encantamento, sedução e inebriamento pelo qual todos nós passamos, só que exponencializando através de metáforas belíssimas.
Um costureiro da aristocracia e da realeza inglesas, Reynold (Daniel Day-Lewis) se encanta por mulheres bonitas que possam desfilar suas obras, até que se cansa com as cobranças de atenção, se livra delas e vai adiante. Não muda seu comportamento, nem sua rotina, a outra pessoa é quem tem que se encaixar no seu cotidiano cheio de regras e TOCs. Até que um dia encontra Alma (Vicky Krieps), uma garçonete de pub de vilarejo e a leva para o seu mundo. Esse é o start que PTA usa para contar-nos sua versão do processo de ‘apaixonamento’. “Trama Fantasma” começa com cara de “Yves Saint-Laurent”(2014), passa por “O Estranho que Nós Amamos” (2017) e desemboca em “Em Algum Lugar do Passado” (1980). A abordagem é sutil, lenta e versa com exacerbos propositais sobre o que o amor faz conosco. O amor, aqui, é uma espécie de anestesia alucinógena que amortece, tira do centro, e além de ajudar no compartilhamento na tolerância, vicia.
O filme é lento, silencioso, mas sua maestria não está no que é mostrado, mas no que PTA faz com o espectador. Ele é bom nisso. O alvo é o espectador que se desdobra para juntar aspectos e entender o que é posto. Diferente de “Vício Inerente” em que o espectador fica perdido num labirinto e tem que procurar a saída sozinho, em “Trama Fantasma” o resultado é dado no final. Mas até percebermos, ficamos presos à tela, sem piscar assistindo a uma história de amor ao som do piano de Jonny Greewood. Paul Tomas Anderson além de dirigir, roteirizou e fez a direção de fotografia, ou seja, fechou as três principais pontas para contar uma história na modalidade cinematográfica. Afeito a abordagens subjetivas como em “Embriagado de Amor” (2002) e “Boogie Nights: Prazer Sem Limites” (1997), tem em” Trama Fantasma” seu trabalho mais aprimorado. Ele usa os aspectos peculiares de cada categoria para brincar com o cotidiano, com os momentos corriqueiros da vida , desejos comuns, manias, jeitos, características de personalidade e fazes de um relacionamento. Tudo isso, sem dar nomes aos bois, sem dizer do que está falando. Mas acertando em cheio naquilo a que se propositou: contar uma história de amor, mutio bem contada.
A trilha sonora de Jonny Greewood de “Precisamos Falar Sobre Kelvin”(2011) que com seu piano bipolar, por vezes amoroso, por vezes tenso e perturbador dá ares de suspense a uma história de amor de uma forma genial. A edição de Dylan Tichenor de “A Hora Mais Escura”(2012) é primorosa e ajuda nos entendimentos silenciosos, ou para pô-los na condição de mistério. Sendo um filme ambientado no mundo da alta-costura, outro papel importante foi o do figurinista Mark Bridges que já foi oscarizado por “O Artista” (2012). Os destaques vão para Daniel Day-Lewis, único ator a ganhar 3 Oscars na categoria (“Lincoln”/2012; “Sangue Negro”/2007; “Meu Pé esquerdo”/1989) cujo aspecto contido na atuação, diz muito de sua competência; Lesley Manville, no papel de Cyril, que atua com os olhos, e ainda, o próprio Paul Thomas Anderson que é quem brilha em “Trama Fantasma”. O que dizer do longa de PTA? Genial!
Vou assistir! 🙂