Trumbo: Lista Negra

Trumbo: Lista Negra

Por | 2018-06-17T00:17:33-03:00 28 de janeiro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Trumbo: Lista Negra (Trumbo). (Biografia/Drama); Elenco: Bryan Cranston, Daiane Lane, Helen Mirren; Direção: Jay Roach; USA, 2015. 124 Min.

Ambientado na era do McCarthismo – a famosa ‘caça às bruxas’ no que concerne a suposta infiltração de comunistas na industria cinematográfica americana, orquestrada pelo senador Joseph McCarthy – “Trumbo: Lista Negra” não se proposita a ser histórico, mas biográfico e eivado de ficção. E funciona para pontuar o quanto perseguições ideológicas e cerceamentos de expressão são nocivos a harmonia, ao progresso e à vida. Tendo como coluna vertebral o período da lista negra dos ’10 de Hollywood’ ( diretores e roteiristas que se recusaram a testemunhar perante a comissão parlamentar de inquérito no congresso americano em 1947). “Trumbo” (no original) é uma belíssima homenagem a um dos maiores roteiristas, senão o maior, que Hollywood já teve.

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Baseado no livro de Bruce Cook  intitulado “Dalton Trumbo”, o longa conta a história de vida de Trumbo de 1947 em diante. Seu cotidiano em família, suas relações de trabalho, seu processo de escrita, isso tudo alinhavado à perseguição política de Joseph McCarthy. Para melhor conhecermos  a história um resumo é bem vindo: James Dalton Trumbo (1905-1976) começou sua carreira de roteirista em 1936 e três anos depois escreveu o livro “Johnny Vai à Guerra”, que foi premiado com o National Book Award. Valorizado como escritor, recebeu sua primeira indicação ao Oscar em 1940 por “Kitty Foyle” dirigido por Sam Wood. Sua trajetória de sucesso o transformou no roteirista mais bem pago da sua época. Ao final da segunda Guerra Mundial em 1945, o mundo estava dividido entre as ideologias capitalista e socialista, num caldo político e econômico chamado guerra fria. A paranóia cresce em relação ao combate ao comunismo, e é nesse movimento  que se inicia a história de Trumbo dirigida por Jay Roach e roteirizada por John McNamara.

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O grande desafio de se escrever e produzir uma história sobre um dos dinossauros do mundo dos roteiristas, deve ter sido o roteiro e suas costuras. Que no mínimo  se espera que esteja a altura do homenageado. Com tantas camadas e subcamadas, como: a política, a filosófica-existencialista, e a de reflexões sobre o próprio cinema, a dupla aceitou o desafio, fez bonito e não deixou a desejar. O roteiro faz um voo rasante sobre a obra de Trumbo, os depoimentos no Congresso, as entrevistas, a prisão e sua vida pessoal. O que resulta num filme que pontua o McCarthismo, sem comprometimento histórico, e que traz conexões muito boas sobre cinema, principalmente, sobre as nuances de personalidade de Trumbo.

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O filme tem destaques memoráveis: a atuação de Bryan Cranston de “Breaking Bad” como Dalton Trumbo; a direção de arte de Jesse Rosenthal de “Carol” (2015), “James brown” (2014) e “Trapaça” (2013); a fotografia de Jim Denault ganhador do Primetime Emmy por “Carnivàle” (série de TV); o figurino de Daniel Orlandi de “O Álamo” (2004) e a edição de Alan Baumgartem de “Joy: O Nome do Sucesso”. O longa começou acertando na escolha do ator, Bryan Cranston, que está soberbo na atuação dos trejeitos e feições de Trumbo. Tecnicamente mistura imagens de arquivo com cenas do filme fazendo um jogo de campo e contra-campo bonito de ver, numa conversa de épocas e de variantes de olhares, primorosos. A homogeneidade das cores, tons e nuances das imagens de arquivo e as encenadas dão ênfase à harmonia do figurino e da direção de arte na reconstituição de cenários que se misturam e que dão um show. A edição de Baumgartem faz  a mesma jogada de “Joy: O Nome do sucesso” quando da transposição da realidade para a fantasia, neste caso, dos arquivos para a encenação em que num movimento de câmera a transposição se dá de forma suave, e é uma cena belíssima.

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O diretor Jay Roach é ganhador de quatro Primetimes Emmy por filmes de TV, e é conhecido por “Entrando numa fria” (2000). John McNamara vem do nicho das séries de TV onde tem longa experiência com mais de vinte créditos entre filmes e séries. “Trumbo: Lista Negra” foi indicado a dois Globos de Ouro, melhor ator para Bryan e melhor atriz apar Helen Mirren ( que está divina como a colunista do Los Angeles Times Hedda Hopper).

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Em suma, o longa-metragem soa mais como uma homenagem a Dalton Trumbo e sua genialidade na escrita e na vida do que como referencial histórico. Com sua amarração de vida pessoal, não podia diferente. É uma ovação ao homem que contribuiu para que Hollywood fosse a indústria cinematográfica como se apresenta hoje. É a meca do cinema mexendo nas próprias feridas e lembrando todos os profissionais de várias áreas que tiveram suas vidas perturbadas pela ‘caça às bruxas’. “Trumbo: Lista Negra” é um retrato da guerra fria interna pela qual os EUA passava na década de 50. O filme é um desagravo aos que pagaram com suas vidas o cerceamento da liberdade de pensar e se expressar. Vale o quanto pesa!

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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