Últimas Conversas (Last Conversations). (Documentário); Diretor: Eduardo Coutinho, Brasil, 2014. 87 Min.#Festival Internacional de Documentários É tudo verdade.
Eduardo Coutinho dispensa apresentações para a galera mais cascuda. Mas, para o pessoal que é o foco das entrevistas, ele é um enigma. É sobre esse encontro entre desconhecidos que versa, caoticamente, “Últimas Conversas”, o derradeiro trabalho de Coutinho antes de seu falecimento, e que abre a 20º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade 2015.
Contratado pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de janeiro para realizar entrevistas com jovens cursando o terceiro ano do ensino médio de escolas públicas, Coutinho se põe na cadeira de entrevistado e desabafa com sua produtora, dizendo que não queria fazer este trabalho, que simplesmente não sabe como fazê-lo. Que preferia fazer entrevistas com crianças, explicando que adolescente é difícil, que vêm armados até a alma, e que por conta disso, não saberia fazê-lo.
Independente disso, os adolescentes vão entrando um após o outro e Coutinho, que não sabia como iria fazer o trabalho, vai desarmando um por um . Se embrenha na histórias e faz uma entrevistada mostrar o diário, o outro ler poemas, outra, ainda , a cantar sua música preferida – “Listen to your heart” de Roxane. Coutinho vai dando seu típico show de angariar confiança e os faz contar coisas que, talvez não contassem para amigos mais chegados. Isso tudo em frente às câmeras, como uma equipe inteira assistindo. Coutinho hipnotiza com sua sinceridade “(…) vou fazer umas perguntas imbecis, como se eu tivesse quatro anos (….) como se eu fosse um marciano”…e a cadeira de entrevistado vira divã. Os adolescentes falam de violências, intimidades, religião, família, sonhos de vida e sobre a morte.
No mesmo compasso de “Jogo de Cena” em que o entrevistado entre e sai na frente das câmeras, “Últimas Conversas” é o fechamento da carreira e da vida de Eduardo Coutinho. As filmagens foram terminadas pouco antes de sua partida e a montagem e edição ficaram por conta de Jordana Berg e João Moreira Salles. O título original também foi trocado, seria “Palavra” e passou a ser “Últimas conversas”.
Só para registro, para aquela galera que não conhece, já que estamos no nicho dos adolescentes. Coutinho foi um dos mais importantes documentaristas brasileiros. Teve uma carreira premiada: “Jogo de Cena” (2007) ganhou melhor filme da Associação paulista de críticos de arte; “Edifício Master”(2002), o Kikito de Ouro no Festival de Gramado e melhor documentário da crítica na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; “Babilônia 2000” (2000), melhor documentário do Grande Prêmio BR de cinema; “Santo forte” (1999), melhor filme no Festival de Brasília; “Cabra Marcado para Morrer” (1964-1984), o prêmio FIPRESCI no Festival de Berlim. Além de ter ganhado o Kikito de cristal no Festival de Gramado pelo conjunto da obra e ter sido homenageado postumamente pela Anistia Internacional e no Oscar 2014.
Para finalizar, foi dado a Coutinho, na edição, o que ele queria, uma entrevista com uma criança encerra o filme, trata-se de Luisa de seis aninhos. E nessa entrevista ninguém sabe quem levou a melhor. Um bônus à parte, que caiu muito bem como uma grata homenagem. “Últimas Conversas” é o fechamento de um ciclo, de uma existência, com chave de ouro e com a porta aberta. Simplesmente tudo!
#Festival internacional de Documentários É tudo verdade 2015 – filme de abertura.
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