‘Um Lindo Dia na Vizinhança’ – uma ode a um ícone

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‘Um Lindo Dia na Vizinhança’ – uma ode a um ícone

Por | 2020-01-26T22:22:55-03:00 26 de janeiro de 2020|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in The Neighborhood) (Biografia/Drama); Elenco: Tom Hanks, Matthew Rhys; Direção: Marielle Heller; China/USA, 2019. 109 Min.

Analisar uma obra cinematográfica é mais do que, simplesmente, emitir opinião pessoal ou fazer uma análise técnica do trabalho de filmografia. É, também, contextualiza-lo em seu âmbito de produção, levar em consideração aspectos culturais, motivações afetivas e de utilidade comercial, social, filosófica, etc. Todas essas variantes são importantes no que diz respeito a “Um Lindo Dia na Vizinhança”.

O longa evoca o ícone americano de produção educacional televisiva, Fred Rogers (1928-2003). Um pedagogo e pastor presbiteriano que durante quatro décadas foi um enterteiner da Educação Infantil, comparado aos nossos: “Glub Glub”; “Shazan, Xerife e CIA”; “Castelo Ratimbum”; “Pluft, O Fantasminha” e tal… Todos educativos, sem viés majoritariamente comercial e que tinham como público alvo as crianças. O programa de Fred Rogers “Mister Roger’s Neighborhood” foi ar de 1968 a 2001 e foi responsável pela formação do imaginário infanto/emocional de quase todas as gerações dessa época. O que a diretora Marielle Heller fez foi adaptar livremente um artigo de jornal intitulado: “Can you say… hero” do jornalista Tom Junod e reinventar o seu processo de escrita, apresentando o viés filosófico do pastor/educador e seu mundo de crenças e costumes para os espectadores atuais. O respeito com o qual a diretora e os roteiristas fazem isso é, sim, admirável… quase uma homenagem.

Fred Rogers tinha um viés bem particular em seus programas infantis. Ele recebia crianças com deficiência, abordava, com uma didática competente, assuntos que ninguém conversa com crianças até hoje, imaginem naquela época… como: guerra, racismo, divórcio e morte. Era uma espécie de orientador educacional de massa. Com uma vida bastante simples e posturas bem peculiares: falava devagar e era dono de um talento para o silêncio que induzia a reflexão sem pressa e não tinha o objetivo de criar juízo de valor, Mr. Rogers se tornou uma uma figura respeitadíssima e amada pelo público americano.

O ator escolhido para fazer o apresentador foi Tom Hanks. Papel pelo qual está disputando a estatueta do Oscar como ator coadjuvante. A grandiosidade do filme está na reconstituição do set de filmagem de Mr. Rogers (direção de arte) e na atuação de Hanks. O que incomoda e o torna, de certo modo piegas, é ser um artefato cultural marcadamente americano, cuja essência está enraizada naquela cultura. Logo, para o resto do mundo soa dissonante, quase que como uma evangelização. A ideia é boa, o roteiro é inteligente porque emprega no longa o jeito de Rogers, transformando-o quase que numa metáfora do próprio personagem. Os roteiristas Noah Harpster e Micah Fitzerman-blue de “Malévola: A Dona do Mal” trabalharam muito bem os pontos básicos que evocam quem era o biografado, traçando um perfil bem desenhado. Mas é só.

“Um Lindo Dia na Vizinhança” para outras culturas que não tenham Rogers na mesma conta de ícone, parece um filme de sessão da tarde à la Vila-sésamo. Mas, para quem o conheceu, acompanhou sua carreira ou cresceu com ele na TV é uma ótima pedida. Para os fãs de Tom Hanks também. Sem contar que, é um excelente motivacional para lidar com as mazelas do cotidiano como controle da raiva, dores emocionais etc.. O longa é para quem gosta do tema de auto-ajuda e tem dificuldade de entender filme cabeça, pois é bem didático. Em suma, é um produto americano para americanos.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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