Uma Noite em Sampa

Uma Noite em Sampa

Por | 2018-06-17T00:23:04-03:00 29 de maio de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Uma Noite em Sampa (Drama) Elenco: Cris Couto, Angelo Brandini, Suzana Alves, Flávia Garrafa, Roney Fachini; Direção: Ugo Giorgetti, Brasil, 2016. 75 Min.

“Você não vê?”

(Ugo Giorgetti ) 

O filme de Ugo Giorgetti é uma pérola para reflexão sobre o imaginário citadino, o fomento do medo, o poder de dependência de grupo, e sobre como se dá o processo de fossilização do indivíduo preso dentro de seu mundo, de suas crenças e paranóias.

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A história consiste numa noite na vida de um grupo de cidadãos que alugam um ônibus numa empresa de eventos e turismos para irem à cidade de São Paulo assistir uma peça de teatro. Após o evento procuram pelo motorista, que sumiu. E todos aguardam ao lado do ônibus fazendo cogitações estapafúrdias, colocando todos os seus medos para fora, externando as suas paranóias e acima de tudo mantendo o verniz.

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O longa-metragem é um compêndio sociológico, talvez sem intenção de sê-lo, sobre como inventamos uma realidade, fomentamos o medo e alimentamos a discriminação social. Apresenta-se como um painel do processo pelo qual vamos nos encruando sem conseguir enxergar o óbvio e acaba se tornando uma parábola sobre a alma dos preconceituosos, medrosos e envernizados num mundo de aparências, mostrando o futuro das mentes que não se abrem, de corpos que não  dão um passo a favor de si mesmos à espera da ação dos outros. Uma radiografia da fisiologia social, do preconceito de classe, da paranóia citadina e do sufocamento do outro.

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“Uma Noite em Sampa” é uma viagem pela alma de uma sociedade doente a partir de conversas e diálogos entrecortados num único set de filmagem. A cereja do bolo é o roteiro que, com tão pouco fala tão alto, e que tão ousadamente toca na ferida dos defeitos nas relações sociais e que brinca com os achismos e com as criações de “verdades” do imaginário coletivo. Dirigido e roteirizado por Ugo Giorgetti de “Festa” (1989) pelo qual ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Gramado. Tem participação especial de Otávio Augusto e fotografia de Walter Carvalho. O filme é um aulão de Sociologia.

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“Uma noite em Sampa” é um alerta, em tom de brincadeira, a prestarmos atenção nas ‘nóias’ que a gente desenvolve para/por andar em bando. Por ser um filme cujo foco são os diálogos, e todos com significações metafóricas e contextuais específicas, seleciona público. É para quem curte teatro, já que as duas linguagens estão bem misturadas, se deleita com incursões sócio-filosóficas e não se importa com lentidão. Em “Uma Noite em Sampa” qualquer semelhança com a realidade não terá sido mera coincidência. O longa é um fomento a se pensar com a própria cabeça e a andar com os próprios pés, e a prova de que com pouco se diz muito. Simples, barato e funcional.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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