Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (VAlerian and the City of a Thousand Planets) (Ação/Aventura/Fantasia); Elenco: Dane DeHaan, Cara Delevingne, Clive Owen, Rihanna, Ethan Hawke; Direção: Luc Besson; França, 2017. 137 Min.
Baseado nas HQs francesas “Valerian and Laurilene” de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” é um filme que cai muito bem para quem conhece a obra original. Mas, nem tanto para quem não conhece (quase todo mundo). O longa é uma divulgação da cultura francesa de ação, aventura e ficção-científica. Mistura realidades em camadas, fala de diversidade e possibilidade de convivência e, é costurado por um enredo que disserta sobre o conceito de amor, tem humor e sarcasmo. Além de ser um festival de cores, cenas espetaculares e de uma criatividade admirável. Porém, o ‘Star Wars’ francês corre o risco de não fazer sucesso nem em casa.
Luc Besson é um cineasta de mão cheia, criativo, erudito, ousado, versátil e fashion (quando quer). Dirigiu obras como: “Imensidão Azul” (1988); “Nikita” (1990); “O Quinto Elemento” (1997); “Joana D’Arc” (1999) e o inteligente e tumultuado “Lucy” (2014).Mas, a ousadia e versatilidade multifacetada de Besson pega a forma de Blockbuster (na divulgação e distribuição) e aplica a filmes com conteúdos e conexões que são restritos a um público específico como se todos tivessem o alcance de entendimento. Por exemplo: em “Lucy”, Besson fala de antropologia, evolução através da autopoiésis e da tecnologia. Consultou cientistas para fazer o filme e esqueceu de dar o manual de instrução para os pobres mortais. O que restou, foi um filme fantasia. Quando na verdade era o ludismo de uma ideia real tanto científica quanto espiritual. Em “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”, também. Para quem é fã das HQs é o melhor filme de ficção científica já feito. Já para quem não é, e nem sequer conhece (alguns bilhões de pessoas) é uma viagem psicodélica elevada a enésima potência, sem nexo. Ou seja, Besson acaba se tornando um Godard pop.
No longa-metragem o Major Valerian (Dane De Haan), juntamente, com a sargento Laurilene (Cara Delevingne) têm que salvar a cidade Alpha, que é uma mistura de milhares de espécies interplanetárias que convivem harmonicamente entre si, de um compô de destruição. E a partir dessa premissa os meninos atuam em dimensões diferentes dentro da própria dimensão em que vivem tentando salvar o universo. É um ludismo da fantástica explosão do espaço/tempo – muito bem concebida, diga-se de passagem – numa aventura muito bacana, mas difícil de entender, assimilar e fazer a cola com toda a história. Para quem conhece a dinâmica das histórias em quadrinhos e os personagens, é a glória. Para quem não conhece uma doideira incômoda.
Independente disso, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” tem uma primorosidade em sua produção que merece ser aplaudida de pé. São 200 espécies distintas desenhadas e concebidas e que fazem com que as atuações de Dane e Cara sejam diferentes para cada espécie com a qual atuam virtualmente, é claro; Besson conseguiu os direitos da música “Because” dos Beattles – um marco inédito- para usar no filme; o longa tem mais de 2.700 takes de efeitos especiais – um record – tem uma fotografia muito louca e genial assinada por Thierry Arbogast de “Belas Famílias” (2015); a trilha sonora é assinada pelo homem de mil braços Alexandre Desplat de “A Luz Entre Oceanos” (2016) e custou 197 milhões de Euros (Isso Mesmo!) o mais caro filme francês até então. E ninguém faz tudo isso para fazer besteira. Mas o calo no sapato é a conexão com as redes de significação do expectador comum.
É uma divulgação da cultura nerd francesa? Ok. A França também tem quadrinhos e filmes de ação? Ok. Mas facilita a vida do espectador assumir que esse filme tem um público específico, do contrário é um tiro no pé. Propaganda sem chão, às vezes pode ‘dar rúim‘ como diz o povão. E justamente no ano de comemoração do cinquentenário da HQ. Uma boda de ouro que pode virar pó. “Valerian a Cidade dos Mil Planetas” é uma divulgação da cultura de ficção científica francesa em inglês, uma espécie de cover de ‘Star Wars’ com cheiro de ‘Blade Runner’. Mas quem não entender, não saia falando mal. Saia à francesa. E se preparem, comprem a pipoca, respirem fundo que foi anunciado, ainda sem previsão de estreia, “Lucy 2″….. Oh, meus sais!!!!
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