Vício Inerente

Vício Inerente

Por | 2018-08-23T18:51:08-03:00 28 de março de 2015|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Vício Inerente (Inherent Vice). (Comédia/Crime/Drama); Elenco: Joaquin Phoenix, Josh Brolin, Owen Wilson, Benício Del Toro, Reese Witherspoon, Eric Roberts, Katherine Waterston; Diretor: Paul Thomas Anderson, USA, 2014. 148 Min.

Está aberta a temporada de caça ao espectador linear. Aquele que prima pela narrativa confortável, sequenciada e que só vê um lado da moeda. “Vício Inerente” de Paul Thomas Anderson é mais um filme que faz o espectador prestar atenção dobrada para não perder um único take. A história versa sobre o amor e seus preços embutidos, como ingrediente principal de uma sopa, que mistura comédia, crime, drama, mistério e romance. E tudo isso numa viagem psicodélica pelos idos da década de setenta.

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Baseado na obra homônima de Thomas Pynchon, é um filme policial ambientado na vibe riponga dos tempos paranoicos da guerra do Vietnã, das seitas,  como a de Charles Manson  e dos movimentos políticos de extrema esquerda como Os Panteras Negras. A obra é uma experiência lisérgica que envolve o espectador a partir da narrativa paranoica e cheia de parênteses, em que cada um deles traz um personagem novo. Começamos rindo, depois entramos em estado de confusão, para no final entendermos parcialmente, em estado cataléptico. Mas, nada que depois de uma  recuperação, e muito remoer, não consigamos chegar a considerações finais. Sim, é um filme que te acompanha até em casa.

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Doc Sportello (Joaquin Phoenix) é um detetive  particular que aceita um pedido de sua ex-namorada Shasta (Katherine Waterston) para investigar um conluio contra o seu atual namorado Michael Wolfmann (Eric Roberts), um empresário de sucesso do meio imobiliário da Califórnia. E durante as investigações, Paul Thomas Anderson nos apresenta a política norte-americana da época, e as dissonâncias dos cotidianos, (um detetive que tem seu escritório num hospital e vive chapado, um policial preso à fase fálica, um amigo infiltrado em uma organização, e que está prestes a perder sua identidade, a sátira com o conceito de seita e  uma história contada por uma narradora chamada Sortilégio). “Vício Inerente” é  uma exposição inteligente de paradoxos, e ensaia diferentes modos de ver uma mesma coisa – dependendo do personagem em quem se tenha o referencial –  é um painel do caos espetacular. Esse desconforto em relação a narrativa da história,  ao contexto de investigações policiais e consumo de drogas, também é visto em “O homem  Duplo” de Richard Linklater, que ficou mais notabilizado pela sua pos-produção de que pelo seu conteúdo, mas que se aproxima de “vício Inerente” quanto aos efeitos produzidos no entendimento ao longo da exibição do filme, imiscuídos na mesma vibe  de viagem lisérgica.

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Toda essa dança tem origem. Ela está na obra do escritor norte-americano Thomas Pynchon, conhecido por seus livros complexos com várias histórias – as vezes dezenas delas – e personagens que se esbarram. A sua ficção é uma junção de diversas áreas antagônicas, de física à mitologia, de ocultismo a psicologia, passando pelo cinema. Pynchon une esses aspectos em suas histórias de forma humorística, poética, absurda e sombria, e cuja cola é a paranoia. A subjetividade das obras de Pynchton é tamanha que a adaptação para o cinema é mais que um desafio. Em “Vício Inerente” ele junta romance policial com política e análise psicológica, temperados com a dita cuja – a paranoia. E o contexto ajuda: década de setenta, Vietnã, Hippies, a ideologia antimaterialista do paz e amor, e muita marola na ideia.

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Mas o filme não seria o que é, indicado a dois Oscares por, melhor roteiro adaptado e melhor figurino, e ganhador de outros 23 prêmios, a maioria do círculo da crítica, se não fosse pela adaptação de Paul Thomas Anderson. Um cineasta de 45 anos conhecido pelo seus estilo independente, por escalar grandes elencos e pelas abordagens complexas, a exemplo de “O mestre” (2012).  Outras indicações do diretor ao prêmio máximo do cinema foram por: “Sangue Negro” (2007), “Magnólia (1999) e  “Boogie Nights: Prazer sem limites” (1997). Um aspecto merecedor de menção em “Vício Inerente”  é a trilha sonora esplendorosa assinada por Jonny Greenwood – componente do Radiohead – e apontado como o melhor guitarrista da era moderna. Que além de apresentar a canção “Spooks” do grupo, que só foi tocada uma vez num show, ainda inseriu canções primorosas, e foi de Burt Bacharach a Neil Young. Além do Visu da fotografia de Robert Elswit de “O abutre” (2014).

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“Vício Inerente” é uma história hilária que apresenta um caos feliz e cheio de referências, muito bem mixado com arte, política, meandros psicológicos e sátira. E que termina dizendo que família, paz, sossego e amor é tudo, mesmo com seus preços. O filme é uma viagem e o  cachimbo da paz chama-se Paul Tomas Anderson.

INHERENT VICE

Sobre o Autor:

Crítica cinematográfica, editora do site Cinema & Movimento, mestre em educação, professora de História e Filosofia e pesquisadora de cinema. Acredito no potencial do cinema para fomentar pensamento, informar, instigar curiosidades e ser um nicho rico para pesquisas, por serem registros de seus tempos em relação a indícios de mentalidades, nível tecnológico e momento histórico.

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