Victoria

Por | 2016-01-05T00:56:18-03:00 5 de janeiro de 2016|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Victoria (Crime/Drama/Thriller); Elenco: Laia Costa, Frederick Lau, Franz Rogowski, Burak Yigit, Max Mauff; Direção: Sebastian Schipper; Alemanha, 2015. 138 Min.

Plano-sequência sempre foi o grande desafio do cinema, pois consiste em um take longo em que, ou tudo dá certo, ou se administra com uma atuação e direção muito bem afinada o que não estava planejado, para que não seja necessário o corte, ou começa-se tudo de novo até dar certo. Isso além de maestria e presença de espírito, exige também um pouquinho de sorte. E Nisso “Victoria” de Sebastian Schipper não tem do que reclamar. O longa de mais de duas horas em um só take (o mais longo até então), tem uma história eletrizante que gera tensão o tempo todo, boa administração de imprevistos e um câmera-man de ouro. Por tudo isso, recebeu 11 premiações e 11 indicações.

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A história cobre o período de uma noite na vida de Victoria (Laia Costa), uma imigrante espanhola que trabalha num café em Berlim. Em uma boite  encontra Sonne (Frederick Lau), Boxer (Franz Rogowski), Blinker (Burak  Yigit) e Fub (Max Mauff). Após se enturmarem victoria decide ajuda-los num pagamento de uma dívida que Boxer possui com um ex-protetor do período em que esteve na prisão. E é aí que a aventura começa e se mantém com altas adrenalinas até o final. A tensão vem de dois lugares, do enredo e da modalidade de produção do filme. As locações escolhidas foram as ruas de Berlim, os terraços de prédios, um café berlinense, um hotel, um night club, um apartamento, uma garagem e uma loja conveniências. No silêncio da madrugada, com ruas desertas a chance de algo dar errado e ter-se que cortar e começar tudo de novo (o que, possivelmente, aconteceu durante o processo de filmagens) é bem menor. E mesmo assim percebe-se momentos de administração de imprevistos. ( vide a cena do carro de polícia).

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Plano-sequência é uma modalidade de filmagem que no passado tinha sua limitações pelos  tamanhos dos rolos, o peso das câmeras, etc… Hoje, na modalidade digital, o maior desafio talvez seja a carga da bateria, afora os aspectos já comentados. André Bazin postulava que o plano-sequência trazia o realismo para o cinema – pelo menos em relação à passagem do tempo  – que era o que realmente estava na cena. E que, isso aproxima-nos de uma realidade imaginada. Vários cineastas se aventuraram por esta seara com trechos em plano-sequência longos, como: Friedrich Murnau em “Aurora” (1927); Alfred Hitchcock em ” Festim Diabólico” (1948), com cortes invisíveis; recentemente, Alejandro González Iñárritu  com “Birdman“, também com cortes invisíveis. Dentre os que realizaram seu intento num longa inteiro estão o inglês Mike Figgis com “Timecode” (2000) com 4 câmeras, 4 planos-sequências de 97 min e com uma tela dividida em 4; o russo  Alexander Sukurov com “A Arca Russa” (2002), num único plano-sequência de 96 Min, o brasileiro Gustavo Spolidoro com “Ainda Orangotangos” num único plano-sequência de 81 Min, e agora é a vez do alemão  Sebastian Schipper com mais de duas horas num longa-metragem que tem história, e que se mistura ao cotidiano como se fosse a vida de qualquer um de nós. O que também faz diferença e  acentua a sensação de realismo.

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O roteiro foi desenvolvido por Sebastian Schipper, Olívia Neegaard-Holm e Eike Frederik Schulz. Da trinca, quem tem experiência é Sebastian Schipper, que atuou em “Corra, Lola, Corra” (1998) – considerado o filme  que inaugura uma nova era para o cinema alemão –  e está em seu quarto longa-metragem como diretor e roteirista. Os demais são marinheiros de primeira viagem. Dos destaques, quem brilha é Laia Costa que administrou tensão, improviso, altos e baixos de emoção numa atuação espetacular  em que não deixa a peteca cair. Por conta disso, ganhou o prêmio de melhor atriz no German Film Awards. A trilha sonora de Nils Frahm, que vem do nicho de documentários e curtas,  é um misto de technos e clássico para ninguém botar defeito, com um lugar de honra para Franz Liszt (181-1886) com a música “Mephisto Waltz” – que Laia Costa não toca, apenas interpreta – por tanto ganhou melhor trilha sonora no German Film Awards também. E por fim, o grande às, o câmera-man norueguês Sturla Brandth grovlen, já laureado com um  camerimage por “Ovelha Negra” (2015), deu um show  de competência e muito preparo físico, o que lhe rendeu o Urso de Prata do Festival de Berlim. “Victoria” arrebatou ainda, melhor filme estrangeiro no San Diego Film Festival e o prêmio da crítica no Festival Internacional de Filmes da Noruega.

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Em suma, o que resume “Victoria” é a técnica. Assistir ao longa é uma experiência. Mas, é para quem gosta de cinema e sabe apreciar detalhes. Apesar de ter bastante ação e tensão, o que atrai público, fazer a conexão entre a história, a forma de abordagem e a técnica de produção do que se tem diante dos olhos, faz toda a diferença. “Victoria” é eletrizante do começo ao fim em todos os sentidos.

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Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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