‘1982’ um relato poético de memória histórica e pessoal

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‘1982’ um relato poético de memória histórica e pessoal

Por | 2022-06-02T23:57:06-03:00 2 de junho de 2022|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

1982 (Drama/História/Romance); Elenco: Nadine Labaki, Mohamad Dalli, Gia Madi; Direção: Oualid Mouaness; Líbano/Noruega/França/Catar, 2019. 100 Min.

“Eu fico com a pureza da resposta das crianças….” (Canção: “O que é, O que é?” de Gonzaguinha)

Autobiográfico, o primeiro longa-metragem do cineasta libanês Oualid Mouaness tem como contexto a invasão de Israel ao Líbano em 1982, como pano de fundo a sala de aula de uma escola de crianças e como argumento, o primeiro amor. “1982” é um registro do olhar das crianças sobre o mundo, e traz, pelo que não mostra, toda uma tensão de um dos conflitos mais sangrentos da História daquele país. Estrelado pela diretora Nadine Labaki de “Cafarnaun” (2018), o longa é um registro poético sobre a memória de infância do diretor.

Dirigido e roteirizado por Oualid Mouaness e rodado na mesma escola que o diretor estudava no ano que leva o título da obra, o argumento tem um recorte de tempo bem marcado: um dia de prova numa escola de ensino fundamental, marcado pela tensão dos professores em proteger seus alunos de notícias ruins, pela angústia dos pais para levarem seus filhos à salvo para casa e pelo jogo de cintura da diretora no trato com os pais e com os professores tentando contornar a situação de medo vivida pelos alunos.

“1982” pela sua abordagem poética e todas as sutilezas que a obra apresenta, principalmente em se tratando de um registro de guerra, foi o indicado do Líbano para representar o país no Oscar 2020 e ganhou muitos prêmios em festivais mundo afora, incluindo o Prix Cannes Écrans Junior; o NETPAC award do Festival de Toronto; o prêmio da crítica internacional (FIPRESCI) no festival egípcio El Gouna; o prêmio libanês no Murex D’or e o premio UNICEF no festival Suiço Castellinaria.

O filme faz pensar na linha limítrofe que separa as visões de mundo dos adultos e das crianças e traz esse painel muito bem desenhado. Faz pensar, também, sobre o impacto que uma guerra causa às crianças e por conseguinte nas futuras gerações de um país. Delineia, ainda, as bolhas de proteção dos adultos em relação às crianças e até entre os próprios adultos. As metáforas utilizadas para enfatizar esses aspectos são procedentes: os carros blindados passando ao largo da escola, a tensão nos olhares entre professores, o céu azul riscado pelos aviões de combate, o barulho das bombas que invade a sala de aula silenciosa, etc. O longa não se manifesta politicamente, pois esse não é o objetivo do roteiro. O que a história deixa claro é que “1982” é uma ode ao olhar da criança sobre o mundo, uma ode à inocência e puerilidade, marcando um dos momentos mais difíceis da História do Líbano daquela época.

“1982” é para todos os públicos. Mas, para o olhar escrutinador de um professor tem um “Q” a mais. É um prato cheio de poesia e de esperança, cuja abordagem é digna de aplausos.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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