Azougue Nazaré (Drama); Elenco: Valmir do Côco, Joana Gatis, Mestre Barachinha, Edilson Silva, Mohana Uchôa; Direção: Tiago Melo; Brasil, 2018. 80 Min.
O produtor de “Bacurau” (2019) e “Aquarius” (2016) está fazendo sua estreia como diretor com o filme “Azougue Nazaré”. Uma obra regionalista que aborda a intolerância religiosa e o processo de aculturação dos artefatos da cultura popular pelos movimentos religiosos. O longa apresenta aspectos do maracatu como suas músicas, organização e estrutura de crenças contando a história de Catita (Valmir do Côco), Darlene (Jona Gatis) e o Pastor (Mestre Barachinha).
A trama se passa num imenso canavial onde um Pai de Santo pratica um ritual religioso com cinco caboclos, que ganham poderes, incorporam entidades e desaparecem. Enquanto isso, numa casa isolada, mora o casal Catita e Irmã Darlene. Ele esconde que participa do Maracatu e ela é fiel da igreja do Pastor Barachinha, um antigo mestre de maracatu convertido à religião evangélica, que se vê na missão de evangelizar toda a cidade. A partir daí o diretor Tiago Melo e o roteirista Jerônimo Lemos mostra o dia-a-dia dos dançarinos/praticantes do maracatu e a evolução de seu processo de criação dentro de uma atividade cultural que tem mais de um século e que, em sua ação de resistência faz uso de tecnologias para não desaparecer. Mais que isso, o longa Mostra o processo de criação dos embates e através deles a esperteza, a valentia nas coisas que se diz e nas coisas que se calam. Possui no elenco sessenta integrantes do grupo de Maracatu d de De Nazaré da Mata, a Cabinda Brasileira, o grupo mais antigo em atividade.
“Azougue Nazaré” é um painel de uma cultura, um mosaico do que se tem no maracatu e seu contexto. O longa traça um perfil de um pais plural, de uma sociedade multifacetada em seus valores e crenças e que tem como interseção, em sua abordagem de roteiro, o sincretismo religioso. As questões suscitadas pelo longa para se pensar são relativas ao respeito ao direito de crenças e o exercício de atividades culturais que são registros de identidade coletiva. Ao mesmo tempo em que versa sobre a hipocrisia humana.
“Azougue Nazaré” tem cheiro de “Bacural” só que este ao invés de versar sobre a união em defesa de um bem comum, mostra a divisão, a polaridade. O longa recebeu mais de 40 prêmios em festivais mundo afora e é um recorte da cultura pernambucana do maracatu, essa mistura de danças e religiões de matriz africana. “Azougue Nazaré” é mais um filho dessa terra como “O Som ao Redor” (2012), “A História da Eternidade” (2014), ” Boi Neon” (2015) e outros que têm agraciado o cinema brasileiro nos últimos anos. Viva Pernambuco! Viva a Cultura Brasileira! Viva o Cinema Brasileiro!
Veja também a entrevista com o diretor Tiago Melo (Aqui!)
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