‘Desobediência’ – a subversão silenciosa

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‘Desobediência’ – a subversão silenciosa

Por | 2018-06-25T22:38:14-03:00 25 de junho de 2018|Crítica Cinematográfica|1 Comentário

Desobediência (Disobedience) (Drama/Romance); Elenco: Rachel Weisz, Rachel McAdams, Alessandro Nivola, Anton Lesser; Direção: Sebastián Lelio; Reino Unido/Irlanda/USA, 2017. 114 Min.

Baseado no romance de Naomi Alderman “Desobediência” é mais uma obra de narrativa subversiva dirigida pelo chileno Sebastián Lelio. Depois de “Uma Mulher Fantástica” (2017), oscarizado na categoria filme estrangeiro, Lelio acertou na mão no que diz respeito ao uso do viés da subversão. E nos apresenta, juntamente, com a roteirista Rebecca Lenkiewicz uma história homoafetiva contextualizada numa comunidade judaica tradicional.

Ronit (Rachel Weisz) é uma fotógrafa que vive em Nova York depois de ter sido expulsa do lugar em que vivia por se apaixonar por sua melhor amiga e por ela ser correspondida. Quando seu pai falece – Rav (Anton Lesser) um rabino ortodoxo – ela retorna para o sepultamento e descobre que sua paixão estava casada com seu melhor amigo. Esse é o start para Lelio e Lenkiewicz  versarem sobre pre-conceituações, convenções sociais e religiosas, normas sociais estabelecidas e  fracassadas, a manutenção do status quo, a natureza humana, a hipocrisia e sua inutilidade, já que todos os caminhos levam a  morte.

Com atuações poderosas de Rachel Weisz e Rachel McAdams, o longa é um primor ao mostrar o sofrimento que causam as convenções estabelecidas por uma sociedade fechada. O cuidado do diretor e roteiristas em não ferir os dogmas religiosos é sentido ao longo da exibição. O alvo não foi questionar a religião, mas mostrar a natureza humana e dizer que ela não tem fronteiras. Mesmo sendo contundente na abordagem, o longa respeita magistralmente o contexto no qual está inserido – as tradições judaicas. A autora da obra original, Naomi Alderman é inglesa criada numa comunidade judaica em Londres, logo conhecedora de causa. Sua obra foi traduzida para dez idiomas e agora vira filme com uma direção primorosa e atuações retumbantes. A trilha sonora diz muito acerca do respeito às tradições quando insere canções judaicas em seus contextos culturais. E esta é assinada por Matthew Herbert de “Café de Flore”.

“Desobediência” é um filme que versa sobre a natureza humana e seu exercício pelas brechas das convenções sociais e traz fôlego à luta pela compreensão do que seja esse exercício de liberdade. Não é acintoso nem leviano, ao contrário, tem classe e sofisticação na abordagem do amor homoafetivo, na abordagem do preconceito e na subversão à ordem vigente. Sem lição de moral “Desobediência” tem em sua última cena o arremate final da história num silencio sepulcral. A produção é do reino Unido, Irlanda e Estados Unidos, mas a mão que empunhou a batuta é latina. O Chile sendo muito bem representado por Sebastián Lelio no mundo. “Desobediência” e para ser aplaudido de pé.

 

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

Um Comentário

  1. And 16 de julho de 2018 em 20:45 - Responder

    Belíssimo filme. Elenco primoroso. Discurso inicial forte!

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