‘Hannah’ e a decepção das expectativas padronizadas

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‘Hannah’ e a decepção das expectativas padronizadas

Por | 2018-08-06T20:53:33-03:00 23 de julho de 2018|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Hannah (Drama); Elenco: Charlotte Rampling, André Wilms; Direção: Andrea Pallaoro; Itália/França/Bélgica, 2017. 95 Min.

Com pouquíssimos diálogos “Hannah” de Andrea Pallaoro nos apresenta a jornada do cotidiano de uma mulher em sua vida familiar para lidar com os imprevistos nas relações, com o desconhecido, com a decepção e com a dor. “Hannah” nos apresenta uma mulher que descobre que nunca conhecemos o outro por mais que convivamos, sempre existem segredos e aspectos lúgubres na personalidade humana, e tem sua vida e todas as suas convicções desmoronadas a partir de um fato. O diretor italiano Andrea Pallaoro conta essa história com silêncios dialogais, a trilha sonora e a fotografia, além da atuações monstruosa de Charlotte Rampling.

Hannah (Charlottte Rampling) é uma mulher na terceira idade, casada há décadas, mãe e avó que de uma hora para outra se vê só. O marido é acusado de um crime e condenado. Ela fica do seu lado, como é de se esperar. Por conta disso perde o amor do filho que a separa do neto. E usa o teatro e seus exercícios para desestressar, tentar se relacionar com as demais pessoas e expurgar a sua dor. O filme seria só isso se não fosse a condução magistral de Andrea Pallaoro que insere o espectador no lugar de Hannah, vivendo uma situação com todos os pontos cegos de quem vive, ou seja, não enxerga ao entorno, não se distancia da situação para mensura-la, analisa-la. O espectador é uma mosca acompanhando o dia-a-dia de Hannah, sua intimidade, seus silêncios sem saber o que está acontecendo. O longa nos remete a “45 anos” (2015), também estrelado por Charlotte Rampling em que, a coluna vertebral da história é a mesma. O quanto acreditamos no que queremos e não conseguimos enxergar o entorno, até descobrirmos que a realidade não era, exatamente, aquela que imaginávamos; e nesse ínterim se vai uma vida inteira e o tempo não volta. A dor da impotência e da decepção é muito bem desenhada em “Hannah”.

A trilha sonora assinada por Michelino Bisceglia traz um violoncelo grave que dá corpo a  esse abismo e essa solidão. Em conjunto com a fotografia lúgubre e azulado/fosca, assinada por Chayse Irving, monta um painel de frieza e isolamento com tons depressivos e fúnebres que compõem magnificamente a aura da personagem e da história. Chayse levou o prêmio da categoria no Chicago International Film Festival pelo trabalho. O filme ganhou, também, o Película D’oro do Festival de Veneza; o Volpi Cup de melhor atriz para Charlotte Rampling e foi indicado ao Leão de Ouro.

“Hannah” é uma dessas raridades em que a edição das imagens conta história quase que sozinha. O longa é um filme altamente subjetivo e que prende a atenção do espectador a cada minuto. Não pela tensão, mas pela curiosidade de se saber o que houve para justificar tanta tristeza, silêncio, solidão e automatismo. É um excelente filme para se pensar o que fazemos de nossas vidas quando vivemos para os outros de uma forma abnegada e sendo o que esperam que sejamos; e um excelente personagem conceitual para refletirmos sobre o quanto não conhecemos aqueles com quem convivemos. Genial!

 

 

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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