‘Holiday’ e o verniz do submundo

>>‘Holiday’ e o verniz do submundo

‘Holiday’ e o verniz do submundo

Por | 2021-05-20T11:46:30-03:00 20 de maio de 2021|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Holiday (Crime/Drama); Elenco: Victória Carmen Sonne, Lai Yde, Thijs Hömer, Yuval Segal, Adam Ild Rohweder; Direção: Isabella Eklöf; Dinamarca/Holanda/Suécia; 2018. 93 Min.

Os filmes nórdicos quase nunca são açucarados, nem as comédias. Normalmente, em meio a enredos mais amenos são colocadas algumas farpas incômodas que nos fazem pensar, nos tiram do lugar comum. Que o diga o filme “Força Maior” (2014) de Rubem Ostlund que nos trouxe à reflexão sobre o papel de herói que esperam de um pai em detrimento do instinto de sobrevivência atravessado por valores. O caso do filme dinamarquês “Holiday” (2018) se insere neste contexto. Com reflexões bem contundentes que mexem com a estruturação do valores socialmente estabelecidos, dirigido por uma mulher e protagonizado por outra traz um contexto ‘familiar’ dissonante e não tão inusitado assim. O argumento é uma saga de final de semana que se torna um soco no estômago para descortinar ‘verdades’ internas sob o aspecto social e de alma.

Sascha (Victória Carmen Sonne) viaja para viver uma vida nova sob algumas regras peculiares e passa a viver na linha limite entre o que querem dela e o que ela pode querer para si mesma. A linha argumentativa do roteiro escrito por Johanne Algren e Isabella Eklöf apresenta uma mulher jovem que de forma ingênua – sem ser inocente – vai se encaixando num mundo envernizado, falso e de felicidade inexistente como valor. A antítese disso é aparição de Tomas (Thijs Römer), o filósofo, o cara que habita um mundo comum e sem ‘glamour’ e que tenta argumentar. O que o enredo faz com ele e no que Sascha se torna, ou deixa vir à tona de si mesma, é um desfecho comum no cotidiano das sociedades modernas de forma metafórica e real. O longa traz, ainda, para reflexão a questão da impotência, a vassalagem por medo, a submissão ao poder pela violência a que são expostos aqueles que não têm força, num modelo de aparências louvadas através da cena do empregado Musse (Adam Ild Rohweder), numa ênfase, quase explicativa, a tudo o que é abordado ao longo da história.

“Holiday” tem uma pitada de “Demônio Neon” (2016), plot twist de “Garota Exemplar” (2014) e uma pegada pornô soft de “Love” (2015) de Gaspar Noé. Tecnicamente tem uma fotografia ensolarada e premiada dirigida por Nadim Carlsen de “Border” (2018), uma atuação brilhante e poderosa de Victoria Carmen Sonne e Lai Yde e , ainda, abocanhou prêmios no Oscar dinamarquês – o Bodil Awards – de filme, atriz principal, ator coadjuvante e os prêmios revelação de direção para Isabella Eklöf e a designer Josephine Farso.

Produção do ano de 2017 e lançado em 2018 “Holiday” entra em cartaz no catálogo da plataforma streaming Reserva Imovision e vale a pena ser conferido.

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

Deixar Um Comentário