‘Mães de Verdade’ e o engessamento de uma sociedade

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‘Mães de Verdade’ e o engessamento de uma sociedade

Por | 2020-10-19T17:36:59-03:00 15 de outubro de 2020|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Mães de Verdade (Asa Ga Kuru/True Mother) (Drama); Elenco: Reo Sato, Hiroko Nakagima, Ren Komai, Hiromei Nagasaku; Direção: Naomi Kawase, 2020. 140 Min. #mostrasp #44mostra #perspectivainternacional

Baseado no romance de Mizuki Tsujimura “mães de Verdade” é o mais novo filme da premiada cineasta japonesa Naomi Kawase. Com sua marca registrada de takes panópticos, musica leve e muita natureza, Naomi Kawase – que também roteirizou o longa – versa sobre as consequências, na vida de adolescentes e da sociedade em geral, do engessamento dos valores de uma construção social sobre constituição de família e aventa a possibilidade de desconstrução desse quadro através do amor.

Asato (Reo Sato) é uma estudante adolescente que se apaixona pelo colega de escola e, aos 14 anos engravida. Seus pais Takako (Hiroko Nakagima) e Misaki (Ren Komai) a enviam para uma casa de cuidados de grávidas cujos filhos vão para a adoção. A vida de Asato muda complemente ao descobrir que o amor de mãe e de mulher não têm forças suficientes contra as construções socio-culturais e sofre as consequências disso. O roteiro do filme pode parecer clichê, mas tem um viés de questionamento cultural sobre a solidão, o abandono, o silêncio e sobre a possibilidade de desconstrução estrutural pelo amor de mães, o dela e o da mãe adotiva de seu filho, Sakoto (Hiromi Nagasaku). O argumento nos remete a “Assuntos de Família” (2018) de Hirozaku Koreeda em que, as leis não dão conta das necessidades dos cidadãos e seus movimentos cotidianos.

Dirigido e roteirizado por Naomi Kawase, conhecida por “Esplendor” (2017) – ganhador do prêmio do juri ecumênico do Festival de Cannes – e “O Segredo das Águas” (2014) – indicado à Palma D’ouro. O longa é um primor na abordagem do amor como instrumento de construção de novos valores sociais que evitem o sofrimento, os suicídios, a infelicidade, as prisões e conflitos internos. Kawase postula que a solução para tudo é o amor, que a busca da vida é o amor e versa brilhantemente sobre a falta dele e suas consequências.. Emocionante, leve e lindo, dirigido com precisão cirúrgica como é de costume da cineasta.

Visto em cabine na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo dia 10/10/2020. #mostrasp #44mostra @mostrasp #perspectivainternacional

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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