‘O Vento Muda’ uma leitura contemplativa de ‘naturezas’

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‘O Vento Muda’ uma leitura contemplativa de ‘naturezas’

Por | 2020-08-20T21:52:34-03:00 20 de agosto de 2020|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

O Vento Muda (Le Vent Tourne/With the Wind) (Ficção); Elenco: Melanie Thierry, Pierre Deladochamps, Nuno Lopes, Anastasia Shevtsova; Direção: Bettina Oberli; Suiça/França, 2018. 86 Min.

Uma das atrações do 8º Panorama Digital do Cinema Suíço é o filme “O Vento Muda” dirigido pela cineasta Bettina Oberli. O longa aborda as ‘naturezas’ em convivência, de acordo com seus níveis de consciências. Em que, o foco e o viés são a natureza humana em sua essência paradoxal, os animais, as pessoas, suas realidades e a sustentabilidade. Ou seja, a tentativa de viver em harmonia. A abordagem é sutil e contemplativa (pelos takes) e sua lentidão nos dá tempo para reflexões e para a apreciação dessa possibilidade de contemplação.

Pauline (Melanie Thierry) e Alex (Pierre Deladonchamps) é um casal que vive bem em uma propriedade rural numa convivência harmonica com a natureza. Adquirem, então, um gerador de energia eólica e com ele chega o engenheiro de instalação Samuel (Nuno Lopes). Oriundo da cidade grande o intruso é descuidado, barulhento e com outros valores. Dentro desse contexto vem também, Galina (Anastasia Shevtsova), uma adolescente que faz parte de uma programa humanitário que visa dar alento a crianças e adolescentes que vêm de Chernobyl, onde perderam seus familiares para o desastre nuclear. Vêm em busca de uma convivência afetiva com outras famílias que minimize seus sofrimentos de alma.

Essas variantes juntas são abordadas com primor pelos roteiristas Antoine Jaccoud de “L’enfant d’en haut” (2012) e a própria diretora, Bettina Oberli de “In Nordwind” (2004) que traçam um painel discreto entre as diferentes posturas de geração de energia (nuclear, eólica e etérica) e suas consequências. Aventando que o senso da destruição está em nós. A verdade/resposta não está lá fora. Imageticamente mostra nossos paradoxos (animais tratados com amor e animais em uma fazenda de abate conectados pela veterinária Mara (Audrey Cavellius) como uma materialização da abordagem de dissonância e paradoxo do externo para o interno e, que obtém ressonância na manifestação da natureza incontrolável entre Pauline e Samuel.

O Longa é um primor para quem tem olhos de ver. Com seus takes panópticos, suas metáforas pungentes – o gerador eólico – e os diálogos intimistas. O mais, é dado pelas interpretações de Melanie Thierry de “O Teorema Zero” (2013) e pelo ator português Nuno Lopes de “Senhora do Destino” (2004) com atuações intensas e sutis ao mesmo tempo – asseverando essa dualidade e paradoxo interno – enquanto o mundo desaba ao seu redor.

Enfim, a Suíça tem um “As Pontes de Madison” para chamar de seu.”Le Vent Tourne” (no original) é um filme para a alma e para ser apreciado lentamente e com garfadas esparsas prestando muita atenção. O filme não contempla todos os públicos, mas é uma pérola de reflexões existenciais. Vencedor do prêmio Variety Piazza Grande do Festival de Locarno e do prêmio do juri do Festival internacional de Santa Bárbara, o filme suíço é um manjar dos deuses a ser degustado a perder de vista.

Como assistir? É só acessar entre os dias 27/08 a 06/09 no endereço abaixo e Boa sessão!

http://www.sescsp.org.br/panoramasuico

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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