‘Os Órfãos’ – terror fora da caixinha

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‘Os Órfãos’ – terror fora da caixinha

Por | 2020-01-30T22:09:42-03:00 30 de janeiro de 2020|Crítica Cinematográfica|0 Comentários

Os Órfãos (The Turning) (Drama/Terror/Mistério); Elenco: Mackenzie Davis, Finn Wolfhard, Brooklin Price, Barbara Marten, Joely Richardson; Direção: Floria Sigismondi; Reino Unido/Irlanda/Canadá/USA. 94 Min.

Vamos falar sobre o nicho dos filmes de terror e sua relevância dentro do contexto do cinema; sobre a interferência de quem escreve sobre cinema ao emitir opinião sobre filmes, mesmo que balizado por conhecimentos técnicos. O que isso tem a ver com “Os Órfãos”? Tudo. Pois a partir do momento que o gênero terror é discriminado – seja por lidar com emoções primitivas e não elaboradas, seja por se consolidar com tendo um roteiro fraco em sua maioria ou por usar clichês manjadíssimos – e consegue chamar atenção de forma positiva de quem não o tem como preferência, significa que algo está mudando no gênero e/ou de que o filme deve ter seu mérito.

Todo exercício profissional tem seu sacrifício. Ver e analisar filmes de terror para montar repertório, confesso não ser um dos meus prazeres. Mas, são ossos do ofício. Isso implica no resultado da análise? sim. Ela é mais forçosa, difícil e merece um pouco mais de cautela para não ser objeto de injustiças com uma obra artística. O exercício profissional é essa desconstrução cotidiana. Neste contexto, quando um filmes deste gênero chama a atenção de uma forma positiva, creio ser um bom sinal. Ouso dizer que “Os Órfãos” tem uma pegada inteligente na mesma linha de “Maligno” (2019); “Hereditário” (2018) e;“A Bruxa” (2015). Todos filmes que usam e abusam os clichês do gênero de terror, mas que têm um ‘q’ de novidade, de raciocínio intrincado e um pé em algum ponto da realidade. Não há nada mais magnetizante, ao assistir a um filme, do que percebe-lo com algum laço com o cotidiano – de forma não forçada -. Fica, inclusive, mais fácil assimilar, crer e prestar atenção, por conta da possibilidade de divagação e reflexão em sua história. (sim, os filmes citados acima suscitam reflexões mesmo sendo do gênero terror. Pasmem!). “The turning” (no original) faz parte deste nipe.

Dirigido pela italiana Floria Sigismondi de “Handmaid’s Tale” (2017) e “Demolidor” (2016), a história se passa na vida de uma professora de crianças (pedagoga), Kate (Mackenzie Davis) que é contratada para tomar conta de uma criança e uma adolescente que perderam os pais num acidente trágico e têm todos os problemas psicológicos possíveis, como preceptora (nada mais assustador) numa propriedade quatrocentenária no meio do nada. Misturando-se a isso todos os clichês de terror e a possibilidade crível de enlouquecimento, tem-se uma história digna de atenção como desculpa para entretenimento.

Baseado no livro de Henry James (escritor americano considerado um dos ícones do da literatura realista do século XIX) “A Volta do Parafuso”, o roteiro é escrito a quatro mãos por Carey W. Hayes de “Invocação do Mal” (2013/2016) e Chad Hayes de “A Colheita do Mal” (2007) e “A Casa de Cera” (2005). Outro aspecto que merece destaque é a referência a “O Iluminado” nos takes do labirinto e a câmera olho de deus; a possibilidade de vários finais a disposição do entendimento do espectador e a possibilidade de não ser nada do que é apresentado.

O longa é digno de um olhar mais demorado pelas possibilidades postas em seu final, mesmo pertencendo a seara do terror. “Os Órfãos” é uma produção inglesa, com direção italiana e que, mesmo para quem não curte o gênero, é uma boa pedida (experiência própria). Não é de hoje que defendo que o gênero está se revitalizando… que o digam: “Corra” (2017) e “Nós” (2019).

Sobre o Autor:

Editora do site Cinema & Movimento e crítica cinematográfica

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