Entre Abelhas. (Comédia/Drama); Elenco: Fábio Porchat, Irene Ravache, Marcos Veras, Luis Lobianco, Giovanna Lancellotti,Letícia Lima; Direção: Ian SBF; Brasil, 2015. 100Min
Foi-se o tempo em que para fazer um filme bastava “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. “Entre Abelhas” que parece ter saído da premissa de Glauber Rocha, é o longa de estreia de Ian Samarão Brandão Fernandes, ou apenas, Ian SBF, conhecido como um dos diretores do “Porta dos Fundos” e que tem como roteirista e ator principal Fábio Porchat. O longa gerou grandes expectativas devido a divulgação massiva durante seu processo de produção, além de fomentar a curiosidade sobre o desempenho de Porchat na atuação no gênero drama. Talvez por isso tudo tenha deixado a sensação de que falta algo.
O enredo é simples, Bruno (Fábio Porchat) acaba de se separar de Regina (Giovanna Lancellotti) e volta a morar com a mãe (Irene Ravache). A partir desses acontecimentos Bruno começa a não mais enxergar as pessoas ao seu redor. Primeiros os desconhecidos, depois os amigos e por fim os familiares. A história insinua uma certa alienação em relação a vida advinda do stress da separação, mas não aprofunda a questão e perde grandes chances – as conversas com o psiquiatra, a cena do suposto atropelamento noturno, a do falecimento de um ente-querido – cenas importantes, fortes, que levariam ao desenvolvimento da trama e que passaram em branco.
A própria metáfora das abelhas, que é o título da obra, ficou vazia e sem conexão. O filme nada o tempo todo numa piscina rasa de acontecimentos fragmentados que dizem a mesma coisa durante 100 minutos deixando o espectador à deriva. Em primeiro lugar porque não tem argumentação, em segundo lugar porque a costura do roteiro para possibilitar ao espectador fazer suas considerações é perdida em cenas (já citadas) que abrem uma brecha para a linha da dramaticidade e da divagação sobre os porquês dos acontecimentos, e que acabam ficando na superficialidade.
Um filme é muito mais que trilha sonora, fotografia (nicho a que pertence Ian SBF) e atores conhecidos. É um desfile de abordagens e fios argumentativos com a junção das metáforas imagéticas que fazem o espectador fazer as conexões de acordo com o seu repertório, e gerar as significações que se quis, que não se quis, que sequer se imaginou e que transformam essa obra em múltiplas outras. Mas, têm que ter os nós para as conexões. O cinema nacional tem produzido preciosidades, em relação a argumento e formas de metaforização do que se quer dizer, deixando o resto para o repertório do espectador, como: “A História da Eternidade”, “Branco Sai, Preto Fica” e “Casa Grande”. Obviamente, cada um dentro de sua proposta. No nicho da comédia: “Os homens são de Marte….” e “Candidato Honesto” são filmes comerciais que não se propõem a serem filosóficos nem artísticos mas que se encaixam em seu espaço com a qualidade de “time” e conjecturas que não entregam tudo, mas também não deixam as questões soltas à revelia.
O que, possivelmente, tenha faltado a “Entre Abelhas” foi a amarração dos fatos à questão que se queria abordar – o trauma da separação – e as devidas argumentações. Um exemplo de sucesso nesse aspecto e pertencente ao mesmo nicho é “A Mulher Invisível” (2009) de Claudio Torres. Em que um homem também se separa da mulher e passa a ver alguém que somente ele vê. A abordagem do trauma da separação e do recomeço, ou não, de vida é muito bem desenhado e faz o espectador pensar na questão proposta a partir dos signos que são amarrados ali…e manda muito bem.
Em suma, o longa de Ian SBF é um laboratório de atuação dramática e de ensaio de roteiro que ficou no limbo entre a comédia e o drama. Pois é, com o advento do surgimento de um espectador mais antenado, com acesso a várias mídias, desenvolvendo seu potencial de conexões de aspectos, e a capacidade de administrar/assimilar camadas e camadas de argumentação simultânea, a premissa “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão” virou referencial poético de cinema.
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